No More Dream: Behind The Screen

Autores: Julio Cezar Neto, Juliana Follador e Kimbely Mello
Revisão: Julyanna Ribeiro e Brunna Martins
2ª Revisão: Isabella Teles e Laura Mello

O MV (sigla para music video) escolhido para o desenvolvimento dessa análise está diretamente atrelado ao tema do debut, sendo assim, iremos mostrar pra vocês “um olhar por trás das câmeras” de “No More Dream” postado dia 11 de junho de 2013 no canal da Big Hit.

Dada à necessidade de explicar um pouco mais afundo tudo que entendemos a partir das análises visuais dos MV, faremos um compilado e um comparativo entre o MV oficial, o Choreography Version e o Dance Practice.

Começaremos por entender as diferenças entre as finalidades de cada vídeo.

  • Dance Practice: Registrar o processo de dança sem cortes e sem uma finalidade estética.  A intenção primária desse formato de vídeo é gravar a prática da dança, da coreografia, do posicionamento e de toda a movimentação dos integrantes do grupo.
  • Choreography Version: Diferente do Dance Practice, nesta versão   a coreografia já é apresentada nos cenários finais do MV oficial. Ela nos situa em relação à dois espaços principais que são os únicos utilizados com a finalidade de captar a dança dentre os cinco que compõem o MV, ou seja, provavelmente a filmagem completa da dança aconteceu nesses dois ambientes e os cortes das cenas criadas nos mesmos foram as que compuseram o MV oficial de “No More Dream”, nesse MV, os movimentos de câmera já são apresentados como parte complementar de edição para gerar impacto.
  • MV oficial: Como produto final, o MV apresenta um total de 5 cenários, uma quantidade incrível de efeitos visuais e movimentos de câmera que compõem a edição final, fotografia (iluminação e enquadramento), figurino, ambientes cenográficos que adicionam camadas de sentido na criação de uma narrativa visual que ocorre a partir da junção de todos esses elementos citados, somados a performance do grupo.
(Junção de 3 imagens sendo elas na ordem da esquerda para a direita, frame desfocado do MV oficial de “No More Dream”, frame com a câmera posicionada em contra plongée (posicionamento inclinado de baixo pra cima) do Choreography Version de “No More Dream”, e por último a imagem da direita é um frame retirado do Dance Practice de “No More Dream”).

Dada a compreensão das diferenças entre eles, iremos agora explorar mais detalhadamente sobre cada formato, entender sua composição e sua existência efêmera em alguns casos.

No Dance Practice é possível notar que a câmera permanece fixa durante todo o vídeo, utilizando somente a função de zoom in (aproximação) e zoom out (afastamento). Este movimento óptico não demonstra possuir uma relação direta com os movimentos da coreografia do grupo, apenas acontece em alguns momentos do vídeo, onde podemos perceber unicamente a intenção em corrigir o enquadramento no grupo durante a variação das suas formações ao longo da música, mantendo sempre o mesmo como objeto principal da cena.

A Choreography Version de “No More Dream”, ao contrário do Dance Practice, traz em sua fotografia um arranjo mais aproximado do MV oficial, contendo movimentos físicos e ópticos de câmera que demonstram uma interação com os movimentos da coreografia do grupo, onde a câmera aparenta, a partir da sua movimentação, dançar com ele, tendo a grua como uma ferramenta bastante utilizada, pois possui um grande alcance tanto horizontal, vertical e lateral em sua ação. Praticamente nenhum plano permanece fixo durante o vídeo. Além dos movimentos, é possível perceber lentes de diferentes distâncias focais sendo utilizadas durante o vídeo.

Movimento de Pulo. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=rBG5L7UsUxA, acesso em 30 de maio de 2020.
Distância Focal e suas Variações. Fonte: u1Voice1Life on reddit, acesso em 30 de maio de 2020.
Grua. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=gggl_gMp6H0, acesso em 30 de maio de 2020.

Também temos um trabalho de pós-produção, que vai desde a montagem, a qual podemos considerar como o “esqueleto” do projeto, que traz a variação dos planos quanto ao seu enquadramento,  duração e também disposição ao longo do vídeo ou seja, que define qual o melhor momento para utilizar determinado plano; até a finalização, onde são adicionados tratamento de cor, efeitos visuais e animações que simulam movimentos, potencializando ainda mais a relação câmera e grupo, ou seja, é possível combinar movimentos de câmera com movimentos aplicados na edição por meio de keyframes (quadros-chave), que permitem definir pontos iniciais e finais, possibilitando variar a posição da imagem, ou de qualquer outro parâmetro, em função do tempo.

Montagem. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=rBG5L7UsUxA, acesso em 30 de maio de 2020.

Focando na performance do grupo, a nossa atenção é direcionada para os integrantes já inseridos em alguns dos cenários que compõem o MV oficial, onde a disposição da arquitetura cenográfica é pensada de tal maneira  em que esses ambientes sejam mais espaçosos, permitindo que o grupo possa realizar suas danças sem comprometer a integridade do cenário e dos membros, ou seja, é necessário ambientes mais amplos para que seja possível explorar mais o potencial da coreografia durante as gravações e que sirvam também para que o enquadramento cumpra as funções do roteiro técnico.

A imagem abaixo  mostra o cenário do MV montado já com o trilho da grua que será utilizada disposta na parte frontal da estrutura cenográfica.

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=gggl_gMp6H0, acesso em 30 de maio de 2020.

Os MVs possuem uma função narrativa, porém, priorizam a provocação de sentimentos e sensações do espectador durante o consumo do produto, criando uma experiência imersiva de imagem-música, também conhecido como sinestesia.

Provavelmente no caso de “No More Dream”, uma ideia ou narrativa foi entregue ao diretor, no caso a música, e coube a ele e sua equipe encontrar e definir elementos que entregassem a “sensação” que mais combinasse com a trilha sonora. 

É importante lembrar que o vídeo oficial é um vídeo de debut (estreia), justificando assim a apresentação dos membros antes do início da música. Seguindo a narrativa construída para o MV, foi apresentado um ambiente de discórdia por meio da atuação e da disposição dos objetos de cena inicialmente apresentados no clipe, como a cadeira e carteira escolar jogadas com a grade recortada por cima, que dão a sensação de invasão e apropriação da sala de aula, assim como a cena do grupo no ônibus escolar, provavelmente furtado, entrando de forma brusca no cenário de uma rua, lembrando que isso se refere apenas a uma história fictícia retratada pela narrativa do MV.

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=rBG5L7UsUxA, acesso em 30 de maio de 2020.

Durante todo o MV, percebemos o uso de artifícios como desfoques rápidos, movimentos de câmera que causam certo desconforto visual e a utilização de uma iluminação que transmite a sensação de desordem, através da variação de uma luz dura para uma difusa, ou seja a fotografia entrega ao MV uma iluminação caótica e contrastada, sempre com mudanças de temperatura de cor, luzes fortes que piscam de forma desordenada levando ao espectador uma sensação de incômodo óptico constante.

Movimento de Câmera + Luz Piscando. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=gggl_gMp6H0, acesso em 30 de maio de 2020.

São pouquíssimos os planos onde percebemos que a câmera permanece fixa, pois mesmo em planos que não sejam do grupo dançando, e sim apenas atuando, a câmera produz algum movimento, seja físico (travelings, roll, panorâmicas e trajetória), óptico (zoom in/out), ou até mesmo a interação dos mesmos. 

Making Of – Suga no Ônibus. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=gggl_gMp6H0, acesso em 30 de maio de 2020.

O interessante na questão cenográfica desse MV em específico acontece também no seu desenvolvimento arquitetônico efêmero, onde nos dias de hoje ele somente passa a existir no campo visual e não mais no físico, os espaços foram exclusivamente criados e pensados para a filmagem desse videoclipe e sua construção fica clara no vídeo apresentado pela Big Hit, em que é mostrado o por trás das câmeras, deixando explícito que o desenvolvimento destes cenários se deu dentro de um estúdio próprio para tal.

Levando em consideração às diferenças de roteiro apontadas entre o MV final e o MV de Choreography Version, entende-se que, existem um total de 5 cenários, sendo 2 para desenvolvimento de coreografia e 3 para contextualização da narração geral do clipe, assim, os vídeos e recortes que foram feitos para o MV final partiram do MV de dança.

Podemos concluir que o MV oficial tem uma narrativa mais extensa e detalhada, necessitando de cenários de apoio como:

  • Espaço interno do ônibus;
  • Corredor com ônibus;
  • Corredor lateral à sala de aula.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=rBG5L7UsUxA, acesso em 30 de maio de 2020.

E os cenários considerados como principais pois contém maior minutagem de vídeo são;

  • Sala de aula;
  • Externo rua.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=rBG5L7UsUxA, acesso em 30 de maio de 2020.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=rBG5L7UsUxA, acesso em 30 de maio de 2020.

Percebe-se que do MV de Choreography Version para o MV oficial, foram adicionadas cenas as quais  permitem  que os integrantes assumam seus personagem e atuem para reforçar o contexto do vídeo, não sendo essas  necessariamente de dança, mas cenas que possuem uma função voltada para a narrativa do MV, adicionando contexto que vai além da coreografia.

Agora uma curiosidade sobre pós-produção: É importante ressaltar que mesmo em grandes equipes, os erros podem passar despercebidos, como uma das luzes de coloração azul, que pode ser vista durante um movimento de câmera enquanto o grupo dança na rua.

Ao assistir e reassistir o MV várias vezes, podemos concluir que essa luz não é proposital, pois o céu que aparece no clipe é CG (computação gráfica). Afinal, as filmagens ocorrem dentro de um estúdio e a aparição desta luz azul não condiz com a continuidade da narrativa, chamamos de erros de continuidade, quando algo aparece em uma cena e na próxima não está mais lá. Estes erros acabam passando despercebidos pela velocidade com que a câmera se desloca no ambiente cenográfico do MV, tornando-se mais difícil de serem identificados se não analisados de forma mais aprofundada e detalhada, como em quadro a quadro.

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=rBG5L7UsUxA, acesso em 30 de maio de 2020.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=rBG5L7UsUxA, acesso em 30 de maio de 2020.

Agora é a sua vez, AMI! Nos conte o que você achou dessa análise e se conseguiu desenvolver novas análises a partir do que pudemos compartilhar de nosso conhecimento!

Apesar do universo da produção audiovisual ser imenso e possuir várias questões técnicas, ele também possui uma vasta beleza de criação colaborativa que transforma uma música em uma experiência imersiva carregada de narrativa e mensagens! E você pode fazer parte dela, criando o hábito de “olhar por trás das câmeras”, analisando a construção dos MVs, procurando aprender mais sobre esse assunto a partir do conteúdo audiovisual disponibilizado por nós aqui do BAA e também por curiosidade própria. Busque, procure informações, afinal, conhecimento deve sempre ser estimulado e nunca é demais.

REFERÊNCIAS

  • HYBE LABELS. BTS (방탄소년단) ‘No More Dream’ Official MV. 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rBG5L7UsUxA. Acesso em: 30 maio. 2020.
  • HYBE LABELS. [EPISODE] BTS (방탄소년단) 2 COOL 4 SKOOL debut single MV shooting. 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gggl_gMp6H0. Acesso em: 30 maio. 2020.
  • HYBE LABELS. 방탄소년단 -No More Dream- Dance Practice. 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EBzr2udonZI&t=1s. Acesso em: 30 maio. 2020.
  • HYBE LABELS. BTS (방탄소년단) ‘No More Dream’ Official MV (Choreography Version). 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=l15_-4-_QO8. Acesso em: 30 maio. 2020.
  • Videopedia. O que são Keyframes e quais tipos existem? Tudo que você precisa saber! 2013. Disponível em: https://videopedia.com.br/geral/o-que-sao-keyframes/. Acesso em: 30 maio. 2020.
  • BARROS, Carlos de Oliveira. GESTÃO DA PRODUÇÃO CENOGRÁFICA. 2005. Dissertação (Pós Graduação em Engenharia) – UFRJ, Rio de Janeiro, 2005.
  • CARDOSO, João Batista. O Cenário Tridimensional no espaço Televisivo. 2002. Dissertação (Mestrado – Área de Comunicação e Semiótica) – PUC, São Paulo, 2002.
  • BROWN, Blain. Cinematografia: Teoria e Prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora, 2012.
  • JULLIER, Laurent; MARIE, Michel. Lendo as imagens do cinema. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009.
  • MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 2011.
  • MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. Lisboa: Dinalivro, 2005.

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