Review: Indigo

Escrito por: Eduarda Jermann

Revisado por: Julyanna Ribeiro

REVIEW: INDIGO

Após o anúncio da BigHit a respeito do alistamento militar do BTS, os membros começaram a lançar trabalhos individuais e se consolidarem na indústria como artistas solos pela primeira vez em mais de 8 anos de carreira. No dia 22 de novembro, a conta oficial do BTS no twitter anunciou o lançamento do primeiro álbum solo do rapper e líder do grupo, Kim Namjoon, também conhecido como RM, intitulado “Indigo”.

“Indigo”, que faz referência a cor favorita do artista, foi lançado às 2h (horário de Brasília) do dia 2 de dezembro (sexta-feira). O álbum é um conjunto de obras que Namjoon produziu ao longo dos últimos 4 anos até hoje, considerado “o último arquivo dos meus vinte anos” pelo artista. Além disso, o projeto conta com mais de 5 participações especiais, sendo todos nomes de peso na indústria musical sul-coreana e ocidental, como por exemplo Park Jiyoon, Erika Badu, Tablo, entre outros. Confira a tracklist:

Imagem 1 — Tracklist

Em sua primeira semana de lançamento, Namjoon realizou diversas entrevistas, lives e até mesmo lançou um documentário que explica o processo de produção do álbum. Sabendo de seu amor profundo pela arte e seu espírito poético, é de se esperar que o álbum seja repleto de significados e símbolos que o represente, mas que também conversem com os fãs. Dito isso, vamos nos aprofundar junto com Namjoon em uma análise, track by track!

TRACK STORY

  1. YUN (with Erikah Badu)
  • A primeira faixa do álbum é nomeada com o sobrenome do pintor sul-coreano Yun Hyong-keun, que está referenciado na capa de seu álbum através da arte instalada na parede do cenário. Além disso, a música é envolvida pela voz serena da cantora Erikah Badu, considerada uma lenda do neo-soul – gênero musical que emergiu no final dos anos 90, que sintetiza elementos de soul com R&B -. Namjoon reforça em documentário para magazine film que foi uma criança dos anos 90 e que isso o influenciou na produção da faixa. A mensagem da música se baseia em um discurso do pintor que enfatiza a importância de viver a vida e ser humano, antes de produzir e ser artista. Além disso, dá ênfase para a importância do silêncio, como explicou em entrevista à revista “The Atlantic”, confira.

  1. STILL LIFE (with Anderson Paak)

– Seguindo para a segunda faixa, com elementos de pop, “Still Life” é uma colaboração com o cantor e baterista Anderson Paak, mais conhecido pelo seu último projeto com Bruno Mars. Por ser um grande entusiasta da arte sul-coreana, Namjoon frequenta constantemente exposições artísticas. Em suas visitas aos museus, conheceu a expressão em inglês “Still life painting”, que basicamente é inanimar um momento em uma pintura, uma vida que está morta. Ainda em seu documentário, RM explica: “As flores que o artista desenhou 100 anos atrás murcharam e morreram muito tempo atrás, mas aqui, ainda está vivendo”. Sendo um fenômeno global, ele estará sempre sendo assistido por todos assim como uma pintura, mas não deixa de estar em constante transformação. Apesar da complexidade do conceito, a sonoridade é leve e animadora. Na manhã de ontem (07/12), foi disponibilizado o MV de “Still Life” no canal oficial da HYBE no youtube,  que exemplifica de maneira visual o conceito: ao mesmo tempo em que se movimenta, imagens de si são congeladas e deixadas para trás, pois o passado não o representa mais. 

  1. ALL DAY (with Tablo)
  • Para a terceira faixa, Namjoon foi em busca de uma voz que pudesse transmitir persuasão. Nesse sentido, Tablo – rapper e líder do grupo veterano Epik High, aceitou a proposta desde que a música fosse otimista. Apesar de seus estilos diferentes, Namjoon e Tablo compartilham muitas semelhanças por serem astros da música coreana, ainda que em épocas diferentes. Com as influências de seu passado, RM utiliza o legado de suas referências na composição e produção de “All Day”. Seguindo essa lógica otimista, a letra discorre sobre preferências pessoais, o que a torna divertida de se ouvir. 
  1. FORGETFULNESS (with Kim Sawol)
  • A guitarra do produtor John Eun junto das doces vozes de Kim Sawol – cantora e compositora de música folk – e Namjoon compõem a quarta faixa do álbum, que busca apreciar as coisas simples da vida (como andar em um parque) enquanto possui uma vida glamurosa repleta de riquezas e compromissos. É como sentir saudade de poder fazer coisas simples do cotidiano, mas que são adiadas pela correria do dia a dia. Sendo uma faixa mais indie, o produtor revelou que no final da música é possível ouvir o som de passos de uma caminhada, que foi secretamente gravado por ele enquanto eles, Namjoon e Sawol, andavam juntos.
  1. CLOSER (with Paul Blanco, Mahalia)
  • A dupla britânica HONNE, que já trabalhou com Namjoon durante a mixtape “Mono”, produziu e co-escreveu a quinta faixa do álbum, que conta com a participação especial do cantor coreano-canadense Paul Blanco e da britânica-jamaicana Mahalia. A junção do estilo musical de HONNE, com as letras sentimentais de Namjoon e os vocais de Paul e Mahalia dão vida a uma temática simples, mas super identificável: as dificuldades de um casal em se aproximar. 
  1. CHANGE PT.2
  • Namjoon defende que apesar de certas coisas terem um caráter eterno natural, no fim, tudo muda. Sobretudo na era em que vivemos, as tendências, gostos e desgostos mudam rapidamente e de maneira constante. É na contradição em que a sexta faixa de ‘Indigo’ se baseia: Não gostamos de mudar, mas estamos em constante transformação. O título faz referência a música “Change” lançada em 2017, em colaboração com o rapper Wale. Além disso, a letra é como uma resposta a muitas críticas que o cantor recebe em relação ao artista que era no passado, apontando que suas entrevistas antigas não o definem mais. Com arranjo do respeitável produtor sul-coreano eAeon, a música é considerada a mais experimental e diferente de todas por RM, visto que possui elementos sonoros exóticos que remetem a “glitches”, o que acaba fugindo do conceito de produções mais comuns conhecidas na indústria do K-pop. Além disso, Namjoon comentou em live no Weverse que estava bêbado enquanto estava gravando a canção e que essa era sua voz embriagada. 
  1. LONELY
  • A sétima faixa, novamente, é abraçada por uma escrita sensível, sentimental e íntima de RM, que compartilha a sensação da solidão e do quão desolador pode ser estar longe de casa, amigos e família. Em meio aos quartos de hotéis e viagens constantes, Namjoon expressa e resgata a experiência universal que é sentir falta de casa, o que se faz presente não só em sua vida como um idol, mas também em nossas vidas. Pdogg – produtor sul-coreano da faixa -, relata que foi capaz de se identificar por conta da quarentena que ocorreu durante a pandemia do vírus COVID-19. 
  1. HECTIC (with Colde)
  • Em parceria com o cantor e compositor sul-coreano Colde, “Hectic” – em tradução livre “frenético” -, possui um gênero que é comumente mais visto como “feminino”, mas que Namjoon decidiu apostar, conhecido como City pop. A oitava faixa perpassa por momentos da juventude e retrata sentimentos como o arrependimento e o vazio, ou como Colde define, “a história incompleta da nossa juventude”. Em termos de produção, a música carrega elementos sonoros que remetem aos centros  urbanos, os quais RM costuma viver. Sobre escolher Colde para a faixa, Namjoon afirma: “Seu coração é muito quente, mas seu nome é Colde”, fazendo um trocadilho com o nome artístico de Colde. 
  1. WILDFLOWER (with Cho Youjeen)
  • Com a colaboração de Youjeen, cantora sul-coreana do grupo de rock Cherry Filter, a title track e nona faixa do álbum é uma explosão de sentimentos explícita com os vocais estridentes da vocalista junto de RM. Produzida por Docskim, responsável por escrever “Outro: tear” do BTS e “Lie” de Jimin, eles procuram retratar o conflito interno de mediar as consequências da fama e do sucesso e a tentativa de permanecer verdadeiro consigo mesmo diante disso. No que diz respeito à composição, Namjoon faz uma analogia com as palavras “fireworks” e “flower works”, no qual os fogos de artifício representam o BTS e as flores ele mesmo.
Imagem 2 —  via: Weverse

Dockskim revelou que estava prestes a desistir de sua carreira, mas a produção de “Wildflower” o forneceu um novo propósito de vida, o motivou a se dedicar cada vez mais tanto para Namjoon quanto para si mesmo. É possível dizer, então, que é uma ótima música para entrar em contato com as próprias emoções, explodir e seguir em frente motivado. 

  1. NO.2 (with Park Jiyoon)
  • Já na última faixa do disco, a letra conversa com as primeiras composições da tracklist como uma espécie de retomada e sua mensagem principal é: não olhe para trás. Nesse caso, Namjoon busca mostrar que até mesmo os arrependimentos, as escolhas mal feitas e os erros são o que compõem a sua melhor versão. A faixa conta com a participação especial da artista veterana Park Jiyoon, que por ser uma referência na indústria e carregar maturidade, acaba por tranquilizar com palavras gentis como “Você fez o seu melhor, não é preciso olhar para o passado”. Além disso, alguns fãs notaram particularidades na escolha de Namjoon pela participação de Jiyoon nessa faixa, já que a cantora sofreu com crises de pânico após seu debut, sendo sexualizada ainda muito jovem e explorada por sua empresa, o que acarretou em sua saída da JYP e anos de hiatus em sua carreira. O que tornou a letra da música ainda mais significativa. Novamente produzido por John eun, “No.2” é quase uma forma de se auto-acalentar, de poder seguir em frente para o futuro sabendo que deu o melhor de si dentro das suas circunstâncias.

Fica evidente que Namjoon é um artista sem igual, considerando sua capacidade em externar e compartilhar sentimentos tão complexos e pessoais de forma artística. Sem dúvidas, é uma ótima oportunidade para o conhecer melhor, assim como a diversidade de gêneros musicais e artistas que compõem esse álbum. 

2 respostas para “Review: Indigo”

  1. […] Começando pelo primeiro álbum solo do líder RM, lançado em dezembro de 2022, que se consagrou como um de seus maiores lançamentos. No início desse ano, “Indigo” atingiu 300 milhões de streams, tornando-se o disco mais rápido a atingir o marco por um solista coreano. O tamanho de seu alcance não é por acaso considerando a qualidade, descubra mais sobre aqui. […]

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