Quero pesquisar sobre o BTS, o que eu faço?

Fonte: Big Hit Entertaiment

Fernanda Vidal 

Revisado por: Elinaete Sabóia e Julyanna Dias

Recorte Temático e Escolha do Objeto 

Quando iniciamos uma pesquisa sobre uma temática que gostamos muito é comum que, na empolgação, tentemos abarcar muitos elementos em nossa análise, pois queremos falar de tudo que gostamos ou de tudo que nos interessa ao mesmo tempo. No entanto, um princípio fundamental da pesquisa acadêmica, principalmente em sua fase inicial, como uma Iniciação Científica ou um TCC, é: quanto mais se restringe o campo, melhor e com mais segurança se trabalha. 

É por esse motivo que falamos em recorte temático. A primeira coisa a fazer ao pensar em um tema é exatamente recortá-lo e especificá-lo ao máximo para assim chegar no seu objeto. Esse movimento é o que você fará ao longo da escrita do seu TCC: começar falando do tema de maneira ampla e detalhá-lo no desenvolvimento de seu trabalho (isso se você escolher o formato de monografia). 

Além do recorte, outro fator que define uma boa pesquisa é o critério de acessibilidade. Pode parecer óbvio fazer essa afirmação, mas muitas vezes quando estamos empolgados com o tema e nos esquecemos deste importante detalhe. O tempo é um elemento definidor para pensar essa acessibilidade: a realização de um TCC leva um ano, às vezes um pouco menos, então é essencial elaborar uma pesquisa que possa ser desenvolvida dentro desse período. 

Mais um elemento importante é o material a ser utilizado. É preciso cogitar se, para a realização da pesquisa no tema que você pretende, haverá acesso ao conteúdo que te permita pesquisá-lo: há bibliografia suficiente em uma língua que você domina? É necessário realizar entrevistas ou coletar informações por meio de questionários envolvendo uma grande quantidade de pessoas? Todas essas informações devem ser consideradas para que seja decidido se existe ou não viabilidade para a realização da sua pesquisa no tema desejado. 

Entendendo isso, de que maneira se chega ao objeto? Como citado um pouco acima, conforme especificamos o tema, chegamos ao nosso objeto de pesquisa, que não precisa ser necessariamente um objeto físico, mas também uma ideia ou um conceito. Você pode, por exemplo, começar querendo analisar videoclipes de música do BTS, que seria o seu tema geral de sua pesquisa, e depois de recortar e especificar, você decide estudar a adaptação dos conceitos de “persona”, “shadow” e “ego” de Carl Jung para os MV’s (Music Videos) do álbum ‘Map of the Soul: 7’. Esta adaptação é o seu objeto.

Uma dica para encontrar o seu recorte e definir seu objeto seria pensar em uma pergunta que você queira responder, ou ainda, em um possível problema que você identificou em uma análise inicial do seu tema de interesse. Essas questões e problemas devem levar em consideração os critérios de acessibilidade de materiais e tempo disponíveis. 

Áreas e Possibilidades de Pesquisa

Tendo esclarecido algumas questões iniciais sobre tema e objeto, vamos agora contar com a ajuda da Equipe do BAA para explorarmos juntos algumas possíveis maneiras de estudar o BTS no âmbito acadêmico em diferentes campos. Algumas sugestões que vamos trazer aqui são mais gerais e precisarão ser recortadas caso você queira trabalhar com elas na sua pesquisa, enquanto outras são um pouco mais específicas.

Escolher um objeto sobre o qual ninguém ainda tenha escrito sobre pode parecer bastante atraente a princípio, no entanto, trata-se de uma opção bastante arriscada, visto que o conhecimento acadêmico é pautado em evidências e refutações. Desta forma, trazer novas perspectivas para um objeto já estudado é o mais aconselhado. Assim, mesmo que já existam trabalhos ou pesquisas sendo feitas com estes mesmos objetos ou temas, você poderá, ainda assim, trazer sua perspectiva para a pesquisa, propondo um novo problema ou questão a ser respondida. 

Vamos então apresentar os temas: 

Relações Internacionais & Geografia: a área de Relações Internacionais é muito propícia para estudar o Bangtan, pois eles são bastante importantes para se compreender hoje o desenvolvimento e os desdobramentos da Hallyu. Assim como dentro da área da geografia, pode-se pensar na Hallyu sob a perspectiva da Globalização e a inserção do BTS como um componente deste fenômeno. Já existem alguns trabalhos muito interessantes para serem explorados pensando o BTS como parte da expansão do Soft Power coreano. Para além disso, é possível refletir nos impactos do discurso do grupo na ONU e da Campanha Love Yourself junto à UNICEF. Pode-se também observar a relação do Bangtan com o estudo do idioma coreano no Brasil e no mundo ou com o crescimento do turismo na Coreia do Sul. Sob uma perspectiva econômica, é relevante estudar os efeitos econômicos que o grupo trouxe para seu país de origem ou até mesmo analisar como o investimento cultural realizado pelo governo coreano impactou o desenvolvimento e expansão do K-Pop e também do BTS. 

Arquitetura e Urbanismo: esta é uma área que a princípio pode parecer não trazer uma relação direta com o trabalho do Bangtan. No entanto, se observarmos bem, um elemento essencial para o trabalho do grupo, seja em videoclipes, shows ou propagandas, é o cenário. Deste modo, a arquitetura dos cenários, assim como, as relações de luz e sombra ou representações de cores, podem ser ótimos objetos de análise científica da obra do BTS. 

Psicologia: trata-se de uma área bastante abrangente e os trabalhos do BTS abordam com frequência o tema de saúde mental, sendo que o álbum ‘Map of the Soul:7’ faz uma relação direta com a obra do psicólogo Carl Jung. Deste  modo, trata-se de um campo de pesquisa que permite uma infinidade de relações com o trabalho do Bangtan e deixaremos aqui apenas algumas sugestões. Vejo que é possível trabalhar o BTS na psicologia sob 2 perspectivas: uma é abordar o trabalho do grupo em si e suas relações diretas com os temas da psicologia, analisando as letras das músicas e as composições dos videoclipes musicais com teorias da psicologia. Outra perspectiva seria pensar os impactos desse trabalho no público por um viés mais comportamental. Por este panorama, é possível analisar a relação do BTS com o ARMY, desde as letras sobre amor próprio que impactaram na autoestima do fandom, até as músicas que abordam o tema de saúde mental e podem contribuir para o tratamento de ansiedade e depressão ou de ressignificação do luto, como: ‘Film Out’, ‘Life Goes On’ ou ‘Spring Day’. Sob um aspecto mais crítico, é viável pensar também nas exigências impostas sobre os membros do grupo e os impactos psicológicos da criação da ideia de um idol perfeito ou mesmo relações tóxicas entre fandom e idol de idolatrar e fetichizar.

Jornalismo & Publicidade: ambas são áreas bastante versáteis para a realização de pesquisa, pois podem ir além do formato monográfico, o que abrange ainda mais as possibilidades e metodologias. No entanto, abordaremos aqui temas que podem ser trabalhados independente do formato escolhido. Para uma análise mais científica nessas áreas, é interessante pensar os mecanismos midiáticos utilizados para disseminação e recepção do trabalho do BTS ou em como o grupo é representado nas mídias ocidentais em comparação com as orientais. Também é possível analisar como o grupo modifica, reescreve, dissemina e potencializa a Hallyu nos mais diversos campos, como cinema, estética, moda, tecnologia, filosofia, arte, etc. Para além disso, focando no trabalho direto realizado pelo grupo, pode-se realizar análises audiovisuais de seus videoclipes, documentários ou propagandas. E também explorar a relação do BTS com o seu fandom, compreendendo quem o compõe, assim como, pensar no ativismo do ARMY junto a causas político-sociais. 

Administração: dentro do campo da Administração de Empresas é plausível pensar o Bangtan no âmbito da Indústria Cultural e do Mercado de Entretenimento coreano e global. É interessante estudar os impactos econômicos da marca BTS, assim como as estratégias de negócio da Hybe (antiga Big Hit Entertainment) que a fizeram se tornar, em poucos anos, uma das maiores empresas de entretenimento sul-coreanas. Também pode ser relevante um estudo das estratégias de marketing do BTS junto a empresas sul-coreanas como Samsung e Hyundai. Para além disso, é possível analisar a relação de influências do grupo com seu mercado consumidor: estratégias de engajamento e fidelização do fandom para com a marca BTS, pensando que todo produto que possui parcerias com o Bangtan ou que tenha sido consumido por algum membro do grupo é esgotado em apenas algumas horas. 

História & Antropologia: A História é uma ciência que tradicionalmente se dedica ao estudo de objetos do passado, e sendo o BTS um fenômeno tão recente, pode parecer difícil a priori relacioná-lo ao fazer histórico. No entanto, o campo de estudo da História do Tempo Presente tem sido cada vez mais reivindicado pelos historiadores, de modo que há possibilidades de estudar o BTS sob esta perspectiva, pegando emprestadas algumas teorias e metodologias utilizadas pela Antropologia, campo ao qual os estudos do Tempo Presente são mais comumente trabalhados. É concebível estudar o Bangtan no fazer histórico e antropológico de diversas maneiras: compreendendo o imaginário ocidental a respeito do oriente a partir da recepção do BTS no público ocidental; trabalhando com padrões de feminilidade e masculinidade construídos a partir da cultura de idols sul-coreana; explorando relações e estereótipos de gênero, a partir das implicações da construção midiática de que os fandoms de K-Pop são constituídos de “adolescentes histéricas” e  buscando, por um viés mais antropológico, compreender a composição real do fandom do BTS, abrangendo, inclusive, o engajamento deste junto do cenário político e social, tal como no movimento Black Lives Matter, nas eleições presidenciais estadunidenses, dentre outros eventos. 

Estas foram as dicas e sugestões que trouxemos para esta publicação. Desejamos que o texto tenha ajudado e inspirado com ideias para dar mais um passo na sua pesquisa acadêmica. Vamos estar por aqui para dar muitos mais, junto de vocês! Se gostou dessas ideias ou tiver outras para compartilhar, deixe aqui nos comentários para inspirar mais pessoas! E também, se a sua área de atuação não foi contemplada, comente e nós poderemos conversar sobre ela nas próximas publicações. 

Até mais!

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

  • ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 2019 [Tradução: Gilson Cesar de Souza] 

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