j-hope em cena: um corpo multifacetado

Catharina Maciel e Yasmin Chung
Revisado por: Maria Skolute e Julyanna Ribeiro

Em 31 de Julho de 2022, j-hope fez história ao performar como headliner (atração principal) no festival “Lollapalooza”, em Chicago. As expectativas eram altas por inúmeros motivos: por ser o primeiro artista sul-coreano a participar desta forma do evento estadunidense, por recém ter lançado seu primeiro álbum solo na época e pelo rapper também ser maindancer (dançarino principal)do BTS, estando a dança muito presente em sua vida. O que o artista teria preparado para as possíveis performances nas novas faixas do seu álbum?

“Sou um artista que não começou criando música. Na verdade, eu me aproximei da música dançando primeiro.”

— j-hope, MTV News (2022)
Figura 1: j-hope se apresentando no Lollapalooza Chicago 2022
Fonte: BANGTANTV

Como a dança se manifestou em sua própria ausência?

“Nossa personalidade se expressa através do corpo tanto quanto através da mente. Não se pode dividir alguém em mente e corpo. {…}Qualquer mudança na maneira de pensar de uma pessoa e, portanto, em seus sentimentos e comportamentos, está condicionada a uma mudança no funcionamento de seu corpo. As duas funções mais importantes a esse respeito são a respiração e os movimentos”

— LOWEN

Durante as entrevistas sobre o álbum, j-hope fala sobre suas intenções em mostrar um outro lado, uma outra imagem de si. A apresentação no “Lollapalooza” não foi diferente. Ao escolher não fazer tantas coreografias –  e aqui, por coreografia, entende-se a forma tradicional de se ensaiar passos de dança, independente do estilo, em sequência determinada – ele quebra com as possíveis expectativas criadas acerca de suas performances. Contudo, o dançar é intrínseco ao artista.

Apesar de, as performances das faixas de “Jack In The Box” não mostrarem uma dança coreografada, percebe-se ela na expressão corporal do rapper. Nota-se um princípio extremamente importante para o movimento, o qual também perpassa todo o álbum: a respiração.

O movimento respiratório é essencial para a vida, estando presente em diversas formas na natureza:

“Até mesmo os astros e as formas de vida mais simples possuem uma constante movimentação de expansão e contração/recolhimento. E ainda que estejamos dormindo, em estado de repouso, precisamos respirar para estarmos vivos. Respirar é um dos mais básicos movimentos (entre outras atividades vitais e contínuas); e as diferentes formas de respirar expressam diferentes formas de ser.”

— Patrícia Leal

Além disso, por ser movimento, relaciona-se diretamente com a dança. Ela tem a capacidade de potencializar a fruição do corpo dançante, regulando seu fluxo de movimento e, pois, fomentar a expressividade do sujeito que dança. A respiração humana consiste na contração e relaxamento das estruturas presentes em sua caixa torácica, podendo reverberar essa movimentação em outros membros. Assim, ao observar a respiração de j-hope durante a apresentação, pode-se refletir sobre a maneira que ele se expressa corporalmente no palco.

Vídeo 1: j-hope ‘What if…’ @ Lollapalooza 2022
Fonte: BANGTANTV

Podemos pensar o dançar de j-hope a partir da perspectiva da dança contemporânea, em que, segundo Laurence Louppe, “ser bailarino é escolher o corpo e o movimento do corpo como campo de relação com o mundo”. Dessa maneira, faz-se necessário que o indivíduo explore outras formas de se pensar o corpo na dança, não se atrelando, especificamente, a alguma estética tradicional.

Por isso, no momento em que o artista atesta a sua escolha em relação a como se portar em cena, no palco, sem coreografia tradicional, e sim com seu repertório corporal, somado ao que latejava em si naquele instante, j-hope coloca-se em reflexão sobre seu fazer artístico, sobre como construir suas relações com o outro.

“Eu realmente pensei muito sobre isso e eu realmente queria mostrá-la [a dança] em minha música. De qualquer forma, dançar é imprescindível para mim e quando eu me apresentar de novo, eu provavelmente estarei dançando.”

— j-hope, SBS Radio

Como o corpo de j-hope pulsa naturalmente ao som da música, junto de seu respirar, a dança flui conforme ele se movimenta, sejam movimentos coreografados anteriormente, sejam em movimentos que se compõem coreograficamente naquele instante. O movimento dançado está presente durante toda sua performance no “Lollapalooza”, expressando o novo capítulo que se iniciou na vida do artista.

Percebe-se, também, a relação entre respiração e expressividade na faixa “Music Box : Reflection”, em que escuta-se o som de uma caixa de música e a respiração de j-hope. Ao ouvi-la, repara-se que sua respiração pode trazer diversos sentidos e sensações, como peso, cansaço, pausa, criando uma poética de corpo singular, conectada à dança.

Conclusão

A apresentação de j-hope no “Lollapalooza Chicago” pode ser considerada um fechamento do ciclo “Jack In The Box”. Após todo o processo de promoção de seu trabalho solo, foi possível observar o amadurecimento de j-hope. O artista almejava mostrar ao público outras facetas de si. Assim, as fotos conceitos, o lançamento dos MVs e do álbum e, por fim, a performance no festival, todos confluindo para seu objetivo. j-hope desprendeu-se da imagem que o público tinha dele nos trabalhos em grupo, mostrando, até mesmo na composição corporal, sua versatilidade artística.

“Eu queria testar meus limites.”

— j-hope, Consequence Sound (2022)

Observação: as traduções das falas de j-hope nas entrevistas foi refeita pelas autoras (do inglês para o português), pois as legendas em português não condiziam em totalidade com o que foi dito pelo artista.

Referências:

Uma resposta para “j-hope em cena: um corpo multifacetado”

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