J-HOPE X JACK: UM ARTISTA E SUAS PERSONAS

Aline Terra
Revisado por: Elinaete Sabóia e Julyanna Ribeiro

“Eu queria que as pessoas percebessem que j-hope não se limita a coisas brilhantes.”

 j-hope, Rolling Stone (2022)

No mês de junho, fomos surpreendidos com a notícia de que j-hope seria o primeiro membro a lançar seu álbum solo: “Jack in the box”. 

Em 2018 pudemos ver j-hope atuando de maneira individual pela primeira vez, com a mixtape “Hope World”. Entretanto, não é apenas uma pandemia que separa “Hope world” de “Jack in the box”, mas a clara transformação do posicionamento de j-hope como artista e sua persona

Aqui podemos entender a maneira com que a persona de um artista se apresenta ao mundo. O artista pode ter uma persona para cada projeto ou até mesmo mantê-la durante toda sua carreira. 

Em 2018 conhecemos a individualidade da persona artística j-hope, e agora em 2022, fomos apresentados a uma nova persona: o Jack, que estava na caixa. 

O mundo do j-hope

Em 2018, conhecemos o verdadeiro mundo do j-hope. Ele nos mostrou sua arte com sinceridade e de maneira tão alegre, vibrante e calorosa quanto vinha fazendo desde seu debut, mas desta vez de maneira solo, através da mixtape “Hope World”. 

“Meu nome é minha vida
Uma ‘vibe’ esperançosa, um tipo positivo em vez de negativo
Eu vivo para meu nome, mas não tem preço”

—  j-hope, “Hope World” (2018)

A primeira música que ouvimos ao dar play na mixtape do artista é “Hope World”. Inspirada no livro “20000 léguas submarinas” de Jules Verne, a música é uma viagem que nos apresenta o mundo de j-hope. Como se estivéssemos mergulhando juntos, somos conduzidos em uma jornada para conhecermos mais sobre ele e o que pretende nos mostrar através da sua arte.

“Ok, grite para o meu mundo da esperança
Quem quer que você seja
Vamos dar uma volta ao redor do mundo”

—  j-hope, “Hope World” (2018)

Seguindo juntos nesta jornada por seu mundo, encontramos letras intensas que são interpretadas de maneira única, como a persona j-hope: brilhante. Conforme avançamos a playlist de “Hope World”, podemos perceber o dualismo que existe na expressão de sua arte.

Esta dualidade, que ocorre entre letras intensas e sua persona brilhante, pode ser analisada através da música “Daydream” que é traduzida para o português como “sonhar acordado”.  

Imagem 1 – j-hope ‘Daydream’ MV. Hybe Labels/BigHit Entertainment.

Sonhamos acordados quando fantasiamos sobre algo ou situações que não fazem parte da nossa realidade cotidiana, com a consciência de que isso não está ao nosso alcance. Na música “Daydream”, j-hope fala sobre seus sonhos e vontades reprimidas, sonhando acordado com uma vida em que aproveita seus vinte e poucos anos em sua totalidade.

“Meu personagem é meio a meio, quem sabe?
A vida esforçada de uma figura pública, quem sabe?
Abster-se de grandes desejos, quem sabe?
Sempre sem fôlego por sonhar acordado, quem sabe?
Quer chorar em paz, eu sei
Quer festejar como um louco, eu sei”

—  j-hope, “Daydream” (2018)

Falando sobre vontades de uma pessoa comum, o Jung Hoseok, como ele realmente é chamado longe dos holofotes e da vida de idol, a música seguiu um rumo mais intenso. E foi neste momento em que a persona j-hope assumiu o seu papel: ser positivo, tomando toda a responsabilidade de deixar a mensagem mais leve. Como o artista explicou em entrevista à revista TIME:

“Mesmo que esses sonhos nunca se tornem realidade, alinhar esses sonhos na minha cabeça continuou me confortando. Eu pensei que expressar esse tópico de maneira errada poderia torná-lo muito pesado, então eu queria colocá-lo em algo saltitante e divertido.”

 j-hope, Time (2018)

O MV de “Daydream” que inicia com j-hope acordando em uma cama, está repleto de cenários com cores intensas. As cores apresentadas no MV, são predominantemente complementares, ou seja, cores contrastantes entre si. Como podemos ver neste background do frame abaixo, que é também a arte presente na capa da mixtape, que representa o mundo do j-hope: 

Imagem 2 – j-hope ‘Daydream’ MV. Hybe Labels/BigHit Entertainment. 
Imagem 3 – Paleta de cores j-hope ‘Daydream’ MV – Autora, 2022

Quando falamos de cores complementares, estamos falando de cores que são opostas umas às outras, e é por isso que elas trazem a dualidade que antes percebemos através das letras e ritmo da música, para o sentido visual.

Imagem 4 – j-hope “Daydream” MV. Hybe Labels/BigHit Entertainment.

Mesmo em momentos que apresentam ambientes ou cenários com cores análogas, que são cores semelhantes, existe algum elemento que quebra esse padrão. No frame acima, as cores análogas predominantes são o azul e o verde, e então o vermelho é o responsável por quebrar o padrão. Como podemos analisar na paleta de cores:

Imagem 5 – Paleta de cores j-hope “Daydream” MV – Autora, 2022

Mesmo cores opostas são harmoniosas. Apesar de estarem em extremidades diferentes, elas ainda fazem parte de uma única obra de arte. Assim como o j-hope, que nos mostra os contrastes que formam quem ele é por inteiro.

Temos também uma pequena mostra da dualidade entre letras intensas e positividade em “P.O.P (Piece of peace)”, que significa “pedaço de paz”. Nesta música na qual fala sobre as dificuldades da vida real, j-hope expõe sua já conhecida vontade de ser “um pedaço de paz” para a geração que está sofrendo. E mais uma vez o artista nos traz uma letra intensa, mas repleta de elementos vibrantes que são capazes de nos encher de esperança.

“Eu quero ajudar porque eu era como um deles
Porque eu era uma pessoa com paixão
Iluminando os sonhos e clareando os pesadelos
A paz estará logo ali”

—  j-hope, “P.O.P (Piece of peace)” (2018)

A verdade é que o lançamento da mixtape foi um passo muito importante para a carreira de Jung Hoseok, pois foi a partir dela que ele teve oportunidade de mostrar quem realmente era e quais mensagens queria deixar para o mundo através da sua arte. 

Entretanto, em entrevista recente ao Weverse Magazine, Jung Hoseok explicou que existiam mensagens que ele não conseguia passar da forma que desejava através da maneira como as pessoas estavam acostumadas a enxergá-lo e por isso deveria expor seu lado sombrio. 

“É claro que há histórias que quero contar, e percebi que poderia ser difícil contar algumas dessas histórias através da música com a imagem e a vibração existentes de j-hope. 
Senti a necessidade de mostrar alguns dos meus aspectos mais sombrios. Eu queria que as pessoas percebessem que j-hope não se limita a coisas brilhantes.”

 j-hope, Weverse Magazine (2022)

E foi a partir disso que conhecemos a sua outra persona: o Jack.

O Jack na caixa

Segundo Jung Hoseok em entrevista à Variety, o conceito do álbum é algo que ele já havia pensado há muito tempo, mas foi durante a pandemia que ele conseguiu uma chance para si mesmo e focou suas energias em sua produção. Ou seja, “Jack in the box” é resultado de um momento de introspecção do artista e muita dedicação em sua obra.

Quando perguntado sobre as influências que teve para a produção das músicas de seu álbum, Jung Hoseok falou que a principal influência foram seus sentimentos, histórias e suas próprias narrativas como pessoa. Estes sentimentos e histórias estavam por trás de sua persona brilhante e agora, através da arte, Jack os trouxe para a superfície.

“[…] a influência que tive ao trabalhar no álbum foi meu eu interior – minha identidade como indivíduo. O meu eu interior, meus pensamentos enquanto trabalhava como parte do BTS e a história da minha vida.”

 j-hope, Variety (2022)

O primeiro contato que tivemos com Jack foi através do concept photo de “MORE’’ publicado nas mídias oficiais do BTS. As primeiras imagens mostram uma persona com semblante sério, sem os sorrisos que antes víamos em j-hope, maquiagens escuras e chapéu que representa o personagem do brinquedo, inspiração para o nome do álbum “Jack in the box”. 

Imagem 6 – Concept Photo “MORE”, 2022 – Hybe/Big Hit Music

Mesmo no primeiro vídeo que vimos a persona Jack performando, o MV do single “MORE” lançado no dia 1º de julho, podemos ver o semblante fechado e sua imagem de certa forma assustadora, como no frame abaixo:

 Imagem 7 – j-hope “MORE” MV. Hybe Labels/BigHit Entertainment.
Imagem 8 – Paleta de cores j-hope “MORE” MV – Autora, 2022

O single “MORE” é totalmente diferente do que estávamos acostumados em outras produções de Jung Hoseok, as letras densas que antes eram misturadas com ritmos vibrantes e empolgantes, agora estão inseridas em uma harmonia tão densa quanto. E assim como planejado pelo próprio artista, ainda nos primeiros segundos já fomos capazes de sentir o que ele queria nos mostrar através de “Jack in the box”. 

“Essa música é muito poderosa e, na verdade, a sensação que você pode ter quando a ouve pela primeira vez provavelmente se reflete em todas as outras faixas do álbum.”

 j-hope, Variety (2022)

Até mesmo as cores fortes e vibrantes que antes encontrávamos nos music videos de j-hope, com a persona Jack se tornaram neutras e escuras. Como podemos analisar no frame do MV de “MORE” abaixo:

 Imagem 9 – j-hope “MORE” MV. Hybe Labels/BigHit Entertainment.
Imagem 10 – Paleta de cores j-hope “MORE” MV – Autora, 2022

Além de cores neutras e escuras, no MV de “MORE” também vimos cenários com baixa iluminação, em desordem e de certa maneira caóticos, como no frame em que objetos estão flutuando:

Imagem 11 –  j-hope “MORE” MV. Hybe Labels/BigHit Entertainment.

E vidros estilhaçados:

Imagem 12 – j-hope “MORE” MV. Hybe Labels/BigHit Entertainment.

O álbum “Jack in the box” é como um diário do artista, onde seus sentimentos e suas próprias confusões internas são expressadas através de letras e notas musicais intensas. Como em “Safety Zone”, no qual conseguimos entender algumas frustrações e inseguranças de Jung Hoseok quando ele se pergunta “onde é minha zona de segurança?” 

A zona de segurança é o lugar onde conseguimos nos sentir seguros de todas as coisas que nos geram preocupações, um lugar em que encontramos conforto e apoio, ou como ele mesmo diz “o raio de luz para alívio na escuridão”. 

“O mundo está mudando rápido
Neste momento, eu encontro solidão
É doloroso como se não houvesse aliados
Minha vida está se tornando minha inimiga, está ficando solitária”

—  j-hope, “Safety Zone” (2022)

Em outro momento, como se estivéssemos ouvindo a narração da página mais profunda de seu diário ou até mesmo uma discussão consigo mesmo, “What if…” nos conduz em uma experiência musical única em que Jung Hoseok se questiona “e se…”. E nos apresenta a diferença que existe entre artista e persona.

“Eu realmente sou assim?
Esperançoso, otimista, sempre com um sorriso no rosto
Eu apenas pensei que era apenas algo que eu poderia fazer
Então minha música, meu discurso, meu sentimento
Eu fiz isso sozinho
Mas, eu me pergunto
Eu pergunto a j-hope
“Se você fosse eu, você poderia continuar fazendo essas coisas que você disse?”

—  j-hope, “What if…” (2022)

Ao longo de toda a música, como uma luta interna, Jung Hoseok expõe seus medos como pessoa. Como alguém que passou seus vinte e poucos anos rodeado por milhares de olhos curiosos, conquistou o sucesso e hoje se questiona: e se eu não tivesse esperança? E se eu não tivesse um sonho? E se eu não tivesse uma casa? E se eu não tivesse um carro? Poderia continuar fazendo isso?

“Você tem tudo agora
Dinheiro, glória, fortuna, e pessoas que você gosta te seguem
Você ainda pode dizer a si mesmo, ou às pessoas, para amarem a si mesmo e ter esperança?
Mesmo que isso signifique que todas as coisas serão tiradas de você
E você vai estar no fundo do poço? (Eu espero)”

—  j-hope, “What if…”, tradução livre (2022)

J-hope x Jack

Alguns podem pensar que o artista se transformou drasticamente, mas a mensagem sempre esteve presente, o que mudou foi a forma de expressão e sua intensidade. Jack é o responsável por trazer para a superfície todo o lado obscuro que antes encontrávamos nas profundezas do mundo de j-hope. 

Jack sempre esteve presente em j-hope, é a persona caótica e intensa, que expõe seus verdadeiros pensamentos e inseguranças de maneira sincera como nunca vimos antes.

As luzes se apagaram, as cores brilhantes se tornaram neutras, o ambiente ficou mais denso e seu interior foi exposto. Exige muita coragem e maturidade para um artista expor seu interior de maneira tão escancarada e sincera e Jung Hoseok fez isso com maestria através de “Jack in the box”.

“O que eu realmente quero dizer é que o álbum está cheio de minha alma e minha sinceridade.”

 j-hope, Weverse Magazine (2022)

A verdade é que todos nós temos mais de um lado, temos lados brilhantes como j-hope e também lados obscuros como Jack. E em um mundo no qual constantemente temos medo de mostrar nossas verdadeiras faces, j-hope mais uma vez consegue ser a nossa esperança, mostrando que também somos capazes de tirar nosso Jack da caixa.

“Eu ficaria grato se você pudesse aguardar com expectativa e interesse, bem como reconhecer que esse é um processo em que j-hope, assim como a pessoa chamada Jung Hoseok, está dando seus próximos passos.”

 j-hope, Time (2022)

Referências

8 respostas para “J-HOPE X JACK: UM ARTISTA E SUAS PERSONAS”

  1. Uau! Completamente encantada com a forma com a qual a autora descreveu a carreira musical do j-hope! Concordo em número, gênero e grau. É gratificante poder acompanhar de perto um artista tão singular quanto o Hoseok, um verdadeiro gênio musical.

    • Não existem palavras suficientes para descrever o quão incrível ele é como artista, e dessa vez ele superou todas as expectativas!
      Muito obrigada pelo carinho e pelo comentário tão lindo ♥

  2. Ver o quão complexo e completo são todos os trabalhos do J-hope aquece o coração de pensar que artista magnífico!!! Parabéns pela análise impecável sobre essas obras primas, realmente importantíssimo e essencial para qualquer um para entender melhor esse trabalho incrível!!! 💜💜💜

    • Ele é incrível e nos sentimos muito felizes em poder admirar a obra dele!
      Muito obrigada mesmo pelo comentário ♥

  3. J-hope é espetacular! Me identifiquei com o artista e com o álbum Jack in the box. Perfeito 👏🏽👏🏽🥰🥰

    • Também nos identificamos muito com os dois, não cansamos de dizer o quão incrível ele é!
      Muito obrigada ♥

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