Autora: Nathália Escobar
Revisado por: Isabella Teles, Laura Mello e Bianca Ribeiro
Oiii amiiis, tudo bem? Eu espero que sim!!!
Depois de falar de maneira mais ampla sobre os projetos do Weverse: “FlyTXT” e “Army with Letter” no texto anterior, iniciaremos uma série de conteúdos sobre alguns detalhes construtivos relacionados aos projetos. Mas se você ainda não sabe do que se trata ou não entendeu, continua aqui que vamos fazer uma recapitulação rápida. Ou, dê uma lida na parte 01 para saber mais: “Army with Letter: A divulgação através de uma construção temporária”
Antes, uma observação: assim como falado na primeira parte, por se tratar de uma obra em que não foi divulgado nenhum documento oficial de sua construção, apenas poderei levantar hipóteses a partir das fotos e vídeos divulgados pela imprensa e pelos fãs.
RECAPITULANDO
No texto anterior vimos que o Weverse instalou a cabine no clube de iatismo, Seoul Marina Club & Yacht, cujo responsável pelo projeto é o escritório de arquitetura EGA GROUP.
Conforme visto na imagem do projeto (imagem 03), a ideia era que se criasse uma área para apresentações ao ar livre, utilizando a tipologia de teatro de arena e, de quebra, um espaço livre que as empresas pudessem alugar.
Segundo um dos itens do artigo 17 da lei coreana Ordinance on Building sobre edifícios temporários (imagem 04), esses tipos de construções não podem necessitar da criação de uma nova infraestrutura, como elétrica e hidráulica para funcionar. Além disso, devido a essa mesma lei, a empresa optou por fazer a cabine com estrutura metálica.
Levando isso tudo em conta, a Weverse na época investiu nos projetos “FlyTXT” para o grupo Tomorrow X Together e o “Army with Letter” para o grupo BTS. O que saiu de ambos os projetos foi uma cabine com decorações diferentes para cada um.
A partir das diversas observações da cabine em si, meu primeiro interesse sobre os projetos foi a base dela, a estrutura metálica que ajuda na sustentação de tudo.
DETALHES E HIPÓTESES: Base da estrutura
Partindo para observar a estrutura, percebi que os perfis metálicos da base que fazem a esquadria eram diferentes, não somente na fachada frontal, mas também nas outras três vistas¹.
Nas imagens acima, ao perceber que uma das pontas da base estava mais alta do que a outra, a minha primeira impressão foi a questão da distorção de imagem, sabendo o quanto isso influencia na sua leitura.
Porém, pesquisando outras fotos e vídeos, pude entender que não estava tão enganada. A base toda está com as pontas com alturas diferentes, como podemos perceber nas imagens anteriores 06 e 07, e também na imagem 08.
Na vista frontal, observei que os perfis metálicos da base estavam com alturas diferentes e o primeiro degrau também estava torto. No GIF 01 e na imagem 09, tracei três linhas: A linha vermelha é a nossa “linha do horizonte” e serve como guia na foto. Já as linhas amarela e azul, são as responsáveis por ligar um ponto ao outro. A linha amarela pega a ponta da base e a azul pega o perfil lateral de um lado para o outro.
Além disso, utilizando o programa de projeto 2D, notei que existe uma diferença de um grau que é sutil, porém por conta dessa diferença a altura do espelho² ficou alinhada com a espessura do bocel³ do primeiro degrau da escada.
Entretanto, o fato das alturas dos espelhos serem diferentes é preocupante, pois pode causar alguns acidentes:
“As escadas devem possuir a mesma medida do espelho e do piso em todos os seus degraus para manter um ritmo ao usuário, já que este, ao utilizar esse espaço de circulação vertical entra num ambiente instável, onde precisa gerar uma extensão muscular da perna adequada para controlar com segurança o movimento do centro do corpo de massa enquanto descer” [Bosse; Oberlander; Savelberg; Meijer; Bruggeman; Karamanidis, 2012. apud Gastaldi; Castilho, 2013. p.100]
Ainda utilizando a mesma imagem de vista frontal, acabei me perguntando: e se os projetistas deixassem na mesma altura do beiral, a parte inferior da esquadria (estrutura de janela)? Para tirar a minha dúvida fiz um teste deixando os perfis na mesma altura.
Com o GIF 02, pude perceber que, provavelmente, eles pensaram nas fotos do ARMY e na decoração dos projetos, pois se reduzissem o frame que está em vermelho, a decoração dos dois projetos provavelmente iria ser alterada. Se houvesse uma redução do frame, as faixas penduradas iriam perder o impacto visual das escritas que vão do piso ao teto. As pessoas não veriam os papéis dobrados logo de cara e os fãs teriam que se aproximar mais da cabine.
Entretanto, a minha pergunta principal foi qual o real motivo das pontas da base terem ficado com as alturas diferentes. Em resumo, cheguei a quatro hipóteses:
- Distorção da imagem: Toda imagem tem uma distorção, principalmente, porque depende da lente da câmera e do posicionamento. O que cria uma angulação e perspectiva diferente em cada fotografia;
- Declividade do piso: Por ser uma área externa, os projetistas precisam pensar no caminho que a água pluvial percorre. Então, a lógica do Ega Group seria apenas em fazer com que o piso tenha uma leve declividade para o escorramento da água da arquibancada para a grama. E assim, a ponta mais alta estaria compensando a declividade e mantendo, visualmente, o alinhamento da laje da estrutura;
- Cabeamento pelo piso: Pela necessidade de levar energia elétrica para a cabine, os cabos estão colocados dentro da estrutura para não ficar aparente para o público. Havia, possivelmente, uma necessidade de mais espaço para guardar e esconder a parte elétrica: cabos, fontes, LEDs etc;
- Criação de perspectiva: Cheguei a me perguntar se a intenção era puramente fotográfica ou estética, pois nota-se que as fachadas laterais têm a base com altura diferente da base na fachada frontal.
Como um teste da terceira hipótese, no GIF 03, percebemos que ao traçar as linhas virtuais da perspectiva, uma das linhas da cor vermelha não se encontra no mesmo ponto de fuga.
Porém, ao notar que a linha não se encontrava no mesmo ponto de fuga, alterei a mesma imagem e segui o traçado da linha partindo do primeiro ponto de fuga, eliminei o segundo, como podemos ver no GIF 04.
Referente à última hipótese, é interessante observar que mesmo com as alturas diferentes, não gera um incômodo visual, ainda mais se for vista lado a lado (imagem 10).
De qualquer forma, minhas considerações são parciais. Na primeira hipótese, a distorção da imagem ainda existe, conforme notei ao olhar outras fotos e percebi que elas realmente estão com alturas diferentes.
Acredito que a segunda e terceira hipóteses sobre a base podem ser as mais próximas do verdadeiro motivo, pois estruturas metálicas são consideradas estruturas pré fabricadas4.
Já em relação à última hipótese, com a criação de perspectiva para a fotografia das pessoas, acredito que ela realmente foi pensada, principalmente, na vista frontal, com a escada sendo um espaço instagramável.
Bom, acredito que com o segundo texto da série de estudos dos detalhes construtivos, já adianto que há vários outros pontos interessantes a serem explorados, principalmente, se você tem interesse em construção civil!!!
Espero que gostem, até breve Army💜
Glossário
¹ Vistas: Termo que vem do desenho técnico em que utilizamos para designar as projeções chapadas de um objeto no qual o observador analisa e desenha. Há quatro tipos de vistas: frontal, lateral (podendo ser lateral direita ou esquerda), posterior e superior. Muitas vezes é utilizado para descrever as faces de um objeto ou edifício;
² Espelho da escada: Termo técnico dado para a altura do degrau de uma escada;
³ Bocel da escada: Pode ser chamada também por nariz ou pingadeira de uma escada. É um termo que designa a borda saliente, geralmente sua espessura é a mesma do revestimento que é colocado na pisada (que é a parte horizontal, onde é pisado);
4 Estruturas pré fabricadas: Estruturas fabricadas fora do local da obra, em usinas e fábricas que utilizam normas técnicas e padrões para a produção das peças.
Referências
- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6492: Representação de projetos de arquitetura. Rio de Janeiro: 1994.
- BRUSHWORK ATELIER. Perspectiva – Por onde começar de forma eficiente?. 18 jul. 2016. Disponível em: <https://brushworkatelier.com/blog/2016/3/31/perspectiva-por-onde-comear-de-forma-eficiente>. Acesso em: 08 jun. 2023.
- GASTALDI, D. O.; CASTILHO, J. R. F. Escadas: Arquitetura, Segurança e Prevenção à Acidentes nos Espaços de Circulação Vertical. Revista Tópos, [S. l.], v. 6, n. 2, p. 90–112, 2013. Disponível em: <https://revista.fct.unesp.br/index.php/topos/article/view/2516>. Acesso em: 27 mai. 2023.
- GOVERNO METROPOLITANO DE SEUL. Ordinance on Building. Seul, 28 abr. 2021. Disponível em: <https://legal.seoul.go.kr/legal/english/front/page/law.html?pAct=lawView & pPromNo=3562>. Acesso em: 20 dez. 2022.