De Abyss a The Astronaut: o sentir e o acolher de Ser

                                         Fernanda Neves, Jannielly de Oliveira, Luanna Moura Carneiro, Cosme Ribeiro

Revisado por: Elinaete Sabóia e Julyanna Ribeiro

(https://www.youtube.com/watch?v=aqtSOksH-NE)

Segundo o autor Han Byung- Chul (2015) vivemos em uma sociedade do desempenho, em que o excesso de positividade acaba se expressando e  produzindo sujeitos que estão constantemente em busca de superar-se em relação aos seus ganhos, fazendo com que tais sujeitos passem a se esforçar  e acabam por ter um exagero de tarefas, buscando uma constante (auto) produção. 

Pessoas com histórico de desempenho elevado tendem a se cobrar e questionarem os lugares aos quais foram alcançados, seja por pressão externa na qual a sociedade tende a colocar grandes expectativas acerca de quais serão os próximos passos já que os que vieram até aqui foram de maneira “brilhante”, ou por cobranças internas excessivas, em que  questiona-se “se os passos até aqui foram brilhantes, onde mais tem para se chegar?. Esses caminhos foram mesmo trilhados pelo esforço da minha caminhada? Eu mereço a medalha no fim dessa jornada?”. Jin trouxe em “Abyss”, sua composição apresentada aos fãs em seu 28º aniversário, indagações que abarcam tais questionamentos, e acaba por introduzir aspectos que explicam o porquê de sua composição e temática apresentada na mesma.  

Falando abertamente, eu experienciei uma grande estafa recentemente e durante esse período eu tive a oportunidade de pensar mais sobre mim mesmo. Após alcançarmos o primeiro lugar da Billboard Hot 100, fomos parabenizados por muita gente, mas questionei se eu também merecia essas felicitações.

Há muitas pessoas que amam mais o trabalho com música e que fazem esse trabalho melhor que eu, mas será que está tudo bem em aproveitar essa alegria e celebrar? Quando pensei mais a respeito, percebi que eu queria me desfazer da ideia porque era difícil lidar com ela.

– Carta de Lançamento de Abyss, 2020.

Ao ouvir “Abyss” a primeira vez, é possível se deparar com emoções que talvez em primeiro momento não sejam bem aceitas, por despertar múltiplas sensações, causando um sentimento de conflito entre conforto e incômodo, como se tivesse entre uma zona de refúgio e um profundo abismo que envolve quem a ouve, causando uma sensação parecida com o querer fugir e ao mesmo tempo se permitir ser, a partir das emoções despertas. “Abyss” tem um conjunto de melodia e letra que acaba por cativar o ouvinte, como se o prendesse no espaço tempo¹, tornando-se uma passagem de dimensão entre o sentir e o tomar consciência,  tomando-o como se estivesse sendo sugado por um Buraco negro². O desenvolvimento que a música trás dá uma sensação de que se está crescendo junto com ela. E assim como Jin, parece continuar procurando um lugar para poder respirar novamente, transmitindo através de sua interpretação. 

“Prendo minha respiração enquanto entro no meu mar […] Quando me aproximo de você, vou ficando sem ar, sinto como se você estivesse cada vez mais distante. Talvez você esteja indo para mais fundo neste mar”

Abyss, 2020

Os solos do Jin normalmente são compostos de elementos marcados por uma profundidade e melancolia que desperta em quem ouve, transmitindo uma sensação de estar sendo abraçado no escuro, mas que a luz está prestes a chegar, e toda a escuridão vai perder força para ganhar um novo aspecto. Seus solos trazem uma nova forma de ver a escuridão sem que o medo o domine por completo. De uma certa forma, cada solo traz para o ARMY uma nova parte do Jin para ser conhecida, começando com “Awake”, lançada no álbum do grupo BTS intitulado “Wings” (2016), logo depois temos “Epiphany”  que também compõe um solo de Jin dentro do trabalho do grupo BTS no álbum: LOVE YOURSELF: ANSWER (2018), “Tonight” (“이 밤”) (2019) foi o primeiro trabalho solo oficial de Jin, “Moon” (2020) que faz parte do álbum Map Of The Soul 7 e “Abyss” lançada no 28 aniversário do Jin (2020), também compondo parte de seu trabalho solo. 

“Continuo apenas andando e andando, dentro dessa escuridão, meus tempos felizes me perguntaram se eu estou bem, respondi que não. Estou com tanto medo”

Awake, 2016.

“Dei tudo de mim pra me adaptar a você. Eu queria viver minha vida por ti. Mas enquanto faço isso, não consigo suportar a tempestade em meu coração. Meu verdadeiro eu atrás da máscara sorridente, vou revelar por inteiro”

Epiphany, 2018

“Quando essa noite acabar, tenho medo de não poder mais te ver. Quando essa noite acabar, tenho medo de ficar sozinho”

Tonight (이 밤), 2019

“Mesmo que todos digam que sou belo, meu mar é escuridão. Uma estrela onde as flores desabrocham e o céu é azul, você é a verdadeira beleza” .

Moon, 2020

“Na escuridão, quero te encontrar e te dizer “hoje, quero te conhecer ainda mais”

Abyss, 2020

“Abyss” foi lançada no 28º aniversário do Jin (2020) adjunto com uma carta escrita pelo mesmo, explicando como foi o processo da composição da faixa, nela Jin explicita suas dificuldades em apresentar de maneira publica seus sentimentos, trazendo um trecho de uma entrevista em que ele mesmo falou sobre não querer demonstrar sentimentos mais profundos que estivessem relacionados com um lado mais obscuro, pois não queria compartilhar seu lado triste. Nessa mesma carta Jin fala que se permitiria manifestar tais emoções se fosse através de música, pois para ele seria um processo diferente do que só expor de maneira “usual”.

“Olá, aqui é o Jin.

Numa coletiva de imprensa não muito tempo atrás, eu disse “Eu não quero compartilhar meus sentimentos tristes com meus fãs. Porque eu quero mostrar apenas coisas boas.” Mas quando se trata de música, a história é diferente. Eu normalmente não quero compartilhar (os sentimentos) com minhas ações, mas acredito que esteja tudo bem em fazer isso através da música.”

Carta Abyss, 2020. 

Um elemento curioso sobre a carta, é que Jin explica não somente sobre sua dificuldade em expressar tais sentimentos, mas como foi o processo para aceitá-lo e de alguma forma expô-lo. Não deve ter sido fácil para alguém que está sempre sorrindo na frente das câmeras encontrar um caminho tão vulnerável e mostrá-lo, mas ainda assim ele o fez, pois mostra que talvez essa ação poderia ajudar de alguma forma o ARMY. A sensação é como se ele tivesse compartilhando suas vulnerabilidades, mas ao mesmo tempo estivesse dizendo “Olha, se vocês passarem por algo desse tipo, agir assim pode ser um caminho possível”, sabemos que nem todo mundo tem a habilidade e recurso para escrever e produzir uma música, mas há caminhos para se achar, um meio para externalizar seus sentimentos mais profundos e não simplesmente escondê-los.

Por exemplo, na teoria da psicologia de terapia cognitivo comportamental, considera a abordagem da terapia de aceitação e compromisso, no qual o terapeuta ensina por meio de habilidades psicológicas  o sujeito a  lidar com pensamentos e sentimentos dolorosos de forma em que o mesmo os aceite ao invés de lutar contra eles. (2014) 

Quando Jin diz “Quero te encontrar e te dizer hoje, quero te conhecer ainda mais” é possível questionar se esse encontro é entre ele e o ARMY, já que o mesmo expôs o quanto sente falta de estar perto de seus fãs, mas também sobre o quanto esse encontro pode ser entre sair de uma “escuridão” em que há uma reclusão de seus sentimentos, para o encontro de um lugar onde suas emoções possam ser trazidas à luz, podendo ser expostas, vistas e entendidas. 

Na psicanálise, Freud (1914), traz um conceito chamado sublimação que diz respeito a aspectos que compõem parte dos processos psíquicos do indivíduo, que são expressos através do campo do simbólico fazendo com que esses aspectos possam ser expostos através da arte, nas suas mais diversas vertentes, como por exemplo, música, pintura, artes plásticas e etc. Esse processo de trazer elementos que antes não eram vistos ou trazidos ao consciente, podem dizer muito de como o sujeito se vê e como se permite ser visto pelo outro. 

Carl Jung em sua teoria sobre arquétipos do inconsciente (1964), traz o conceito de sombra, que consiste em aspectos reprimidos inconscientemente pelo sujeito, pois são materiais psíquicos no qual há elementos em que pode não ser bem aceito socialmente quando evocados. A sombra traz em si aspectos considerados não tão bons, mas é a partir da tomada de consciência sobre tais aspectos que pode se iniciar um processo de autoconhecimento, deixando que tais sentimentos possam ser evidenciados e assim trabalhados.

Em “Abyss”, em seu discurso na carta apresentada para o ARMY, Jin parece apresentar tais conceitos quando diz que usa da música como processo para dizer o que não faria se fosse em outras circunstâncias, mas que se permite fazê- lo através da arte, da música. Talvez sem que seja percebido por ele, escrever como foi esse processo de composição pode ter sido mais uma maneira de deixar que seus sentimentos fossem vistos, e que tivessem acesso a eles.

Ao escrever a carta para o ARMY, foi mostrado como Jin se sentia sobre ele e sobre aquela música, o que leva a entender que nem sempre as coisas estão ligadas a apenas uma pessoa ou circunstância. Sendo trazido pelo mesmo que lançar a música em seu aniversário seria uma forma de não deixar de maneira ambígua o assunto trazido.

“…É uma música meio triste, que não combina muito com um aniversário, mas senti que não haveria outro momento para lançar Abyss, então decidi promovê-la.”

Carta Abyss, 2020

Ao ouvir “Abyss’, pode-se inferir que trata-se apenas de uma música romântica, mas quando parasse um pouco para entender o que o Jin talvez quis apresentar com tais palavras, o sentido virá de maneira mais profunda e íntima, como se estivéssemos ouvindo palavras gentis de um amigo, no qual quer ser ouvido, mas também que entende o que é se sentir perdido, trazendo um sentimento de empatia (3) entre o ouvinte e o autor/ compositor. 

Na sociedade atual é comum esconder o que é sentido e seguir caminhos sem necessariamente pensar sobre  tais emoções e sentimentos. A carta escrita junto a música de alguma forma diz: “Fale sobre os seus sentimentos, está tudo bem ficar triste ou frustrado, você precisa falar, entender e aceitá-los.”. Essa sensação de acolhimento, faz com que de alguma forma  essa música seja especial em vários aspectos. Pois entende-se de que reprimir tais emoções e sentimentos pode-se levar a um adoecimento, pois a repressão gera a falta de um conhecimento sobre os impactos de que sentir pode ter sobre si e sobre o outro. Dessa maneira, “Abyss” é uma música que revela sentimentos do autor/compositor, mas também um lembrete de que sentir faz parte de se viver, e que há caminhos possíveis para entender tais emoções. 

Caminhando para 2022, um ano considerado por muitos como pós pandêmico, embora o vírus da Covid continue circulando, agora com sua letalidade reduzida graças a campanhas de prevenção e vacinação, diversas atividades presenciais retornaram, entre elas os shows musicais. Tivemos entre muitos shows o “Yet to Come in Busan” onde os meninos do BTS se apresentaram e em determinado momento Jin anuncia ao público presente e aos que estavam acompanhando a transmissão do show que o próximo ato solo dos membros seria o seu. 

Em 28 de outubro de 2022, tivemos o seu debut como solista com o single “The Astronaut”, agora com um álbum que carrega seu nome, Jin  mantém seus sentimentos, mesmo apresentando-os de outra forma.

Um pouco diferente de “Abyss” e de outros solos apresentado por Jin no qual algumas emoções não eram bem aceitas , em “The Astronaut”, Jin nos traz outra versão de si e seus sentimentos, o que antes era experienciado como um misto conforto e incômodo assume agora um teor resiliente com uma bagagem de gratidão, evidenciado pelo próprio Jin no vídeo de apresentação de “The Astronaut”:

(https://www.youtube.com/watch?v=c6ASQOwKkhk)

“Eu escrevi a letra, e nela expresso como me sinto sobre o ARMY, que me fizeram como eu sou, Jin do BTS”

PICKCON / 픽콘, JIN of BTS. 2022

Sobre a manifestação desses novos sentimentos e liberação dos mesmos, Wilfred Bion (1959) explica a partir da relação continente e contido, na qual em linhas gerais o respeito, amor e carinho que o ARMY transmite a ele (assim como os outros integrantes) sendo o agente continente, permite que seus sentimentos possam ser transformados assim como o agente contido, possibilitando cada vez que Jin mostre sua singularidade, também evidenciado no vídeo de entrevista quando afirma que veremos uma nova face dele (ref. video).

Semelhante aos outros solos de Jin, “The Astronaut” também traz um tom melancólico, porém avançando um pouco, o que antes era colocado como ser abraçado no escuro enquanto a luz não chega, toma a posição de ser trazido para luz, como se o mesmo braços que nos abraçavam agora nos conduz rumo a luz brilhante, manifestando assim uma espécie de cuidado com os fãs.

Como aquela via láctea iluminando o caminho pela escuridão, você estava brilhando em minha direção, a única luz que achei nessa escuridão, meu caminho em direção a você.

Jin, The Astronaut, 2020

Quando comentamos o conceito de resiliência na psicologia, como afirma Sorge et al. (2011) nos referimos a capacidade do indivíduo de enfrentar as adversidades, manter uma habilidade adaptativa, ser transformado por elas,  se recuperar ou conseguir superá-las. Muitas vezes aplicadas a diversas fases da vida dos indivíduos e de sua singularidade. Da mesma forma podemos conjecturar esse sentimento de resiliência aplicado no afeto que o ARMY mantém pelos meninos, o mesmo afeto que Jin comenta que o faz brilhar em qualquer lugar (PICKCON / 픽콘. BTS JIN(방탄소년단 진)) .

Acerca do MV, Seokjin nos conta a história da jornada de um astronauta que a nave caiu na terra e após conviver aqui, decidiu ficar no planeta tanto por amor às pessoas quanto pelas coisas preciosas que temos. Na jornada do astronauta ao deixar sua nave e possivelmente o local de onde veio, nos traz o entendimento de que, por mais que voltar para casa seja um desejo inicial do astronauta, por fim ele aceita que o ficar na terra agora faz parte de sua jornada, ressignificando o seu desejo. Em relação a isso, Freud (1914) dá o nome de elaborar, quando o indivíduo consegue dar um novo sentido a algumas experiências por ele vivenciadas. 

 Em “The Astronaut”, a personagem do Jin não pertence a terra, e busca voltar para onde veio e começa uma corrida até o local em que caiu, e durante o trajeto, imagens e recortes são feitos para que possamos compreender o que se passou e se passa ali, tanto na construção de Jin quanto na relação com a personagem da garotinha. Tais flashes podem ser vistos como processo de conhecimento de Jin ao se deparar com o desconhecido, suas dúvidas representadas pelo preencher do jogo de palavras, buscando entender ou encontrar o que completa, o que falta, a palavra “Family” não completa perfeitamente no jogo de palavras, mas é a palavra que faz sentido para o processo pelo qual há um reconhecimento.

  O olhar e o cuidado dele com a personagem da menininha, quando vai tirar o capacete, podemos observar que personagem de Jin entende de que talvez vá precisar do objeto, mas tem a sensibilidade de perceber que talvez ela precise mais e “se doa” para ela. Nesse trecho podemos associar ao fato do Jin declarar em entrevista para o quadro “No prepare” de  Lee Youngji, que já deixou de fazer coisas pessoais para que o grupo e os membros, pudessem ser priorizados, e que esse processo acontece de maneira recíproca, pois os membros também abrem mão de realizar algumas coisas uns pelos outros, e que talvez essa seja a chave de um relacionamento sincero e duradouro. 

Puxando-se o conceito do MV para a psicologia, conseguimos identificar a projeção do cuidado de Jin com seu fandom ARMY, através das cenas de cuidado dele com a garotinha. No que diz respeito ao cuidado com o outro, Silva Sobrinho (2015) traz a visão do filósofo Heidegger que explica que é um modo de ser primordial do humano e acontece antes mesmo de qualquer outro comportamento. Isso é demonstrado no MV pelas partes em que Seokjin está ajudando a garotinha a andar de bicicleta, quando, em um ato altruísta, retira seu capacete e entrega para a menina, sabendo que naquele momento ela precisará do capacete mais do que ele.

Um aspecto interessante sobre “The Astronaut” é como a representação artística da realidade presente nele, seja em forma da letra da música, cenas do MV e outros elementos presentes. Em um dos seus escritos o filósofo Michel Foucault (1995) diz:

  • “O  que  me  surpreende,  em  nossa  sociedade,  é  que  a  arte  se relaciona  apenas  com  os  objetos  e  não  com  indivíduos  ou  a vida;   e   que também   seja   um   domínio   especializado,   um domínio  de  peritos,  que  são  os  artistas.  Mas  a  vida  de  todo indivíduo  não  poderia  ser  uma  obra  de  arte?  Por  que  uma lâmpada  ou  uma  casa  são  objetos  de  arte,  mas  nossas  vidas não?”
Foucault, 1994, p. 617

O seu encontro com a delicadeza da garotinha, a ensinando a andar de bicicleta sozinha, pode representar a busca por autonomia que é construída na relação de afeto e aprendizagem instituída entre os dois, tendo a confiança como parte desse processo de conhecer e confiar. O processo de confiança pode ser visto desde a construção da música, porque sabemos que foi feita em parceria com Coldplay, uma música que foi um presente dado a Jin por eles, e tem os vocais de apoio do Chris, vocalista do Coldplay. Mesmo sendo uma atividade solo, Jin explica que os membros tiveram muita importância em sua recente atividade, demonstrando mais uma vez o sentimento de família e de apoio que os meninos sentem um pelo outro, que também abordamos nos textos de “Jack in The Box” e no texto sobre dependência e redes de apoio.

Esse processo de confiança e olhar para o outro vendo potencialidades para que seja construído uma relação é importante para a composição do sujeito, mas percebemos que isso perpassa para a arte, para a música e é compartilhada com outras pessoas na ideia de que vejam, ouçam se identifiquem e possam sentir um pouco do que o artista sente, vê e assim vão tecendo redes de afetos e permitindo que outras pessoas possam tecer conjuntamente. Uma boa obra muitas vezes é feita sozinha, mas pode ser compartilhada com muitos e cada um interpreta a partir da sua concepção, do seu olhar, sendo uma composição de múltiplos olhares e sentidos.

 No começo Jin olha para os desenhos com estranhamento, mas no final do MV percebemos que é ele quem faz o desenho, podendo significar o reconhecimento de que ele compreende não veio dali e que o estranhamento faz parte desse processo, mas quando ele desenha o lar, entende que aquele estranho pode fazer parte de quem se é agora. Quem de nós já não se sentiu estranho ao se deparar com uma nova situação? Ou se sente deslocado ou como se não pertencesse a um lugar ou espaço? Ser e estar em lugares, com pessoas ou sozinho, faz com que possamos nos deparar com situações que não sejam confortáveis e nos cause certo estranhamento, e por vezes queremos sair por acreditar não fazer parte, e esse pode ser um mecanismo importante para situações que o coloque em risco ou que de fato não seja bom, mas pode ser parte do processo de se entender e reconhecer.

O que pode nos trazer uma boa reflexão, para Foucault no trecho acima a vida não estaria em relação com arte, porém trazendo para o ano de 2022, nós ARMYs podemos contestar esse trecho, pois vemos a arte do BTS paralela com a vida deles e as nossas, focando em “The Astronaut” a mensagem principal de Jin é o quão ele se importa e é agradecido ao ARMY, e as cenas do MV expressa isso muito bem, sejam elas, nas cenas em que está com a menina ensinando-a a andar de bicicleta, ao doar seu capacete de proteção para ela, os desenhos que preenchem o cenário do quarto.

Na recente notícia da ida de Seokjin para cumprir o seu alistamento militar, “The Astronaut” vem com uma promessa, uma promessa em que mesmo ele  indo cumprir uma parte de sua jornada, ele voltará, assim como o astronauta em seu MV voltou para a casa, o local onde ele identificava como lar e para sua amiga, Jin voltará para seu lar, o BTS, afinal como ele mesmo diz em sua entrevista, mesmo sendo uma atividade solo os seus companheiros de grupo tem um papel fundamental e importante em sua música, assim como ele também voltará para o ARMY.

No trajeto até a nave, Jin vê um boneco que representa o Astronauta e se vê refletido, se olha, se estranha, mas se vê e segue. O trajeto é feito sozinho, correndo, e ao chegar no destino e ver que a nave está pronta, ele percebe que está onde deveria estar e que sua casa é o lugar que construiu junto a garotinha.

Quanto ao sentimento de resiliência e afeto, deixamos ao ARMY e a quem mais se sentir tocado pela arte e vida de Kim Seokjin que, ao fechar os olhos e ouvir “Abyss”, tente se imaginar em um abismo, em vez de se entregar a ele ou lutar contra a beirada, tente uma vez, apreciar a vista, o verde, o azul do mar e sinta a voz do Jin junto a melodia, onde isto pode te levar? E ao ouvir “The Astronaut”, lembre-se que existe uma via láctea iluminando o caminho escuro e uma força que nos ajuda a sair da escuridão, e que quando estamos juntos temos o céu.

Referências

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BTS – Awake  (English Translation). Genius, [s.d.]. Disponível em: https://genius.com/Genius-english-translations-bts-awake-english-translation-lyrics. Acesso em: 09 de nov 2022

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Freud, Sigmund. Lembrar, Repetir, e Elaborar (1914). in: Fundamentos da clínica psicanalítica. São Paulo: Autêntica, 2017. p.107-114.

Friary. V (2014). O que é a terapia de aceitação e compromisso (ACT)?. Disponivel em: https://www.brasilmindfulness.com/post/2014/04/24/o-que-%C3%A9-a-terapia-de-aceita%C3%A7%C3%A3o-e-compromisso-act. 

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Jin – The Astronaut  (English Translation). Genius, [s.d.]. Disponível em: https://genius.com/Genius-english-translations-jin-the-astronaut-english-translation-lyrics. Acesso em: 09 de nov 2022.

Jin (BTS) – 이 밤 (Tonight/This Night) (English Translation). Genius, [s.d.]. Disponível em: https://genius.com/Genius-english-translations-jin-bts-tonight-this-night-english-translation-lyrics . Acesso em: 30 de jun 2021.

Jung, Carl Gustav. O homem e seus símbolos, vol 15. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1964. p. 62- 298.

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