Escrito por: Ana Vitória de Souza Cardoso, Aurora de Araujo Oliveira, Clécia Lima , Fernanda Neves
Revisado por: Maria Skolute, Ana Karolyne O. Monteiro, Mariana Parolini
Em uma live que ocorreu no dia 21 de julho, Jungkook conversou um pouco com o ARMY sobre o lançamento de “Seven”, seu single lançado em 14 de julho de 2023. Nessa live, ele relata como está se sentindo acerca das promoções para divulgação da música, estando satisfeito com os resultados e, expressando isso de maneira leve ao público que o assistia. Ao ler os comentários, ficou incomodado com algumas perguntas enviadas e iniciou uma discussão sobre o relacionamento que deseja ter com o ARMY. Ele reforçou como gostaria que BTS e o fandom se tratassem como amigos, demonstrando com exemplos como lidar com esta relação.
Não é comum ouvirmos e sermos ensinados a conversar sobre falas desconfortáveis que pareçam difíceis, mas entendemos que são necessárias para a qualidade e o aprofundamento dos relacionamentos. Dessa forma, a partir da live e de como Jungkook expressa o tipo de relacionamento ideal que deseja ter com os fãs, ele relatou estar fazendo projetos que gosta, e disse que seria ótimo se os fãs entendessem. Entretanto, caso não gostem, ele não tem planos de mudar por estar feliz com as suas decisões e escolhas. Assim, podemos observar a maneira como Jungkook nos instruiu a nos relacionarmos com ele enquanto pessoa, a partir da sua individualidade, mostrando caminhos possíveis para observar e analisar como as conversas e os limites precisam estar correlacionados para a construção de um relacionamento saudável, seja ele entre amigos, familiares e amorosos, ou entre fã e ídolo.
Mesmo antes do debut do BTS em junho de 2013, cada integrante se esforçava para compartilhar suas habilidades, gostos e interesses com desconhecidos na internet como uma tentativa de alcançar seus sonhos através de sua sinceridade para com a música e de encontrar pessoas que fossem tocadas por suas mensagens.
O conteúdo, que começou com fotos e pequenos textos no twitter e no fancafe, evoluiu com o tempo a partir de uma demanda dos fãs e possibilitou a divulgação de informações sobre cada passo do grupo: diversos sites com falas, fatos, curiosidades e episódios sobre cada integrante, além de materiais como jogos e programas de variedades, divulgados pelo ARMY e também pela empresa que os gerencia desde o começo. Segundo Fernandes (2017), estas novas dinâmicas de consumo de conteúdo não só abrem espaço para conexão com o grupo, mas também para especulações sobre a vida profissional e pessoal dos artistas.
O ARMY tem, durante os anos, trocado experiências quanto ao que é ou não aceitável na relação fã-artista com a criação de projetos como o “Purple Ribbon”, que consiste em criar barreiras com fitas roxas em aeroportos para que possam ver a passagem dos integrantes, e também para impedir que ultrapassem o espaço pessoal deles como uma demonstração de respeito. As discussões se aprofundam quando o assunto envolve sasaengs (fãs obsessivos), compromissos e viagens pessoais dos idols, assim como tem avançado à medida que o próprio grupo está mais confiante em estipular limites sobre o que partilham de si mesmos e seu trabalho.
Quando pensamos em estabelecer limites, esse comportamento pode estar dentro da classe de respostas para aquilo que chamamos de Habilidades Sociais. Elas são diferentes classes de comportamentos sociais presentes no repertório dos indivíduos, de modo que eles consigam lidar, de maneira adequada, com as diferentes situações que se apresentam à eles. É a forma pela qual pessoas se comportam diante das demandas de uma situação onde precisam se relacionar com as outras, de modo a potencializar os ganhos e diminuir as perdas para os envolvidos dessa interação. Elas não são inatas, o que quer dizer que não nascemos apresentando essas características, mas podemos aprendê-las ao longo da vida (BOLSONI-SILVA & KESTER, 2010).
Sendo assim, Villa & Del Prette (2005) classificam essas habilidades sociais em: (1) habilidades empáticas, as quais envolvem três componentes, sendo eles (a) o cognitivo (na medida em que se é capaz de interpretar e compreender os sentimentos do outro), (b) o afetivo (quando se experiencia a emoção do outro) e c) o comportamental (onde se expressa a compreensão das demandas do outro); (2) habilidades de automonitoria, que são as capacidades dos indivíduos de observarem seus pensamentos, sentimentos e comportamentos e a regulação destes em interações sociais; (3) habilidades de expressão de sentimento positivo, que envolvem menos interações verbais e mais as não verbais, e tendo como uma subclasse as habilidades de cultivar o amor; (4) habilidades sociais de civilidade, conhecidas popularmente como “boas maneiras”, como pedir licença, agradecer, falar “por favor”; por fim, (5) habilidades de comunicação, necessárias para uma boa interação entre os indivíduos. Podemos perceber pela live do Jungkook que ele apresenta, principalmente, três classes de Habilidades Sociais, sendo elas as habilidades de comunicação, habilidades de civilidade e habilidades de automonitoria. Ele precisou prestar atenção em seus sentimentos e pensamentos diante da situação e ter convicção sobre o que estava fazendo, e assim, pôde se comunicar de maneira assertiva, mas sempre de forma educada, de modo que não precisou ofender ou ser grosseiro ao expressar o que estava pensando e sentindo.
Estabelecer limites é uma forma de auto respeito, é poder delimitar um lugar que seja confortável para você mesmo e permitir que as pessoas saibam até onde podem ir. É também poder dizer que as opiniões expressas por elas serão bem vindas e serão levadas em consideração na medida em que respeitarem a sua individualidade. Pode parecer um desafio sair da bolha daquilo que esperam de nós, e é difícil perceber que algo que queira fazer possa ser criticado por aqueles que pensam e sentem diferente de você. Porém, quando se está verdadeiramente feliz e satisfeito com o seu trabalho, esse é o caminho para ter uma vida que também seja satisfatória.
Jungkook nos ensina nessa live que essas habilidades podem ser aprendidas ao longo da vida. Hoje, enxergamos o homem que comunica com civilidade os seus limites, pedindo que eles sejam observados e respeitados, diferente daquele trainee que só queria se sair bem perante os outros. É somente quando pudermos falar com segurança dos nossos limites para as pessoas que são importantes para nós, e elas conseguirem respeitá-los, que poderemos viver relacionamentos mais saudáveis, e JungKook nos dá um modelo de como fazer isso!
REFERÊNCIAS
BOLSONI-SILVA, Alessandra Turini; CARRARA, Kester. Habilidades Sociais e análise do comportamento: compatibilidades e dissensões conceitual-metodológicas. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v.16, n.2, p. 339-350, ago. 2010
FERNANDES, Paula. O relato autobiográfico e as relações parassociais: celebridades construídas para consumo? In: 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, , 2017, Curitiba. Resumos […] Curitiba: Intercom, 2017. Disponível em: https://www.portalintercom.org.br/anais/nacional2017/resumos/R12-0737-1.pdf
VILLA, M. B.; DELL PRETTE, Z. A. Habilidades Sociais no casamento: avaliação e contribuição para a satisfação conjugal. Tese (Mestrado em Psicologia) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP. Ribeirão Preto, p. 123. 2005.
WEVERSE, Live Jungkook intitulada “ㄲ”, disponível em: https://weverse.io/bts/live/4-125568469, acesso em: 15 de agosto de 2023.
2 respostas para “Relações saudáveis precisam de limites: o que o Jungkook nos ensina sobre isso”
Esse texto ficou incrível! Parabéns, pessoal!
Eu amei essa matéria! Ficou muito boa. Parabéns. Fico feliz em ver que o Jungkook estabeleceu limites no Army. Espero que os Tannies também façam o mesmo se quiserem. Amei os dois parágrafos que falam sobre Habilidades Sociais 💖