A Narrativa Visual Na Linguagem Cinematográfica De Matrix No MV N.O do BTS

A TRILOGIA ESCOLAR – THE SCHOOL TRILOGY IV:
Matrix

Autora: Vitórya Rapallo
Revisado por: Maria Skolute, Ana Karolyne O. Monteiro e Mariana Parolini

É certo afirmar que o mundo à nossa volta é real ou é apenas uma construção mental do nosso cérebro? A máxima de renúncias pode realmente provar nossa existência? Ou tudo não se trata apenas de reflexos: sombras na parede de uma escura caverna construída para aprisionar o nosso ‘eu’? 

Em “N.O”, o MV busca simbolizar a rebeldia e o questionamento do padrão escolar, o que no ponto de vista educacional, com o ensino já defasado, impulsiona à revolta dos meninos e a estrutura deles, provocando uma nova forma de pensamento entre o “falar e agir”. Com isso, a simulação do professor entregando a pílula aos alunos representa uma saída para a nova realidade do mundo que irão descobrir. A própria imagem do professor faz uma associação a posição hierárquica, opressora e ditatorial, trazendo uma menção em sua narrativa fílmica ao clipe da música “Another Brick in the Wall” da banda Pink Floyd . 

“Não precisamos de nenhuma educação / Não precisamos de controle mental / Chega de humor negro na sala de aula.”  (PINK FLOYD,  Another brick in the wall, 1979)

Em uma análise comparativa com o filme “Matrix”, neste cenário, mostra como as máquinas colocaram os humanos sob um estado de hibernação, onde impulsos elétricos eram usados para emular uma existência paralela em que todos acreditavam estar vivendo seus cotidianos de maneira natural. Semelhante a isso, pode-se observar o que é citado logo no início pelos meninos: “Quem nos faz uma máquina de estudos? / Você é o número um ou um fracasso? / Adultos fizeram esta moldura e nós caímos nela.” (BTS, N.O, 2013)

A referência utilizada que conecta o MV ao filme é a pílula vermelha, que no ponto da estória, o líder dos rebeldes do mundo real, Morpheus interpretado por Laurence Fishburne, junto ao seu grupo de revolucionários oferece para Neo, representado por Keanu Reeves, duas pílulas: uma de cor azul, outra vermelha. Com isso ele diz: “Se tomar a pílula azul… a história acaba, e você acordará na sua cama acreditando…no que quiser acreditar.  Se tomar a pílula vermelha…ficará no País das Maravilhas…e eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho”.

Caso o personagem Neo tomasse a pílula azul, voltaria à sua ilusória, medíocre e superficial vida, mas caso ele optasse pela pílula vermelha, ele conheceria a verdade que está por detrás do mundo que julga ser real. Neo se arrisca e escolhe a pílula vermelha, conhecendo, finalmente, a complexa verdade além do seu mundo de aparências. 

Figura 1 – Pílulas de Morpheus
Fonte: Matrix, 1999

Dessa forma, o personagem fictício possui uma decisão importante em suas mãos: a ele foi oferecida a chance de permanecer em seu mundo com seu cotidiano, suas lutas, suas vitórias, seus fracassos, amigos, família, tudo como sempre foi. Já com a outra opção ofertada, ele teria a oportunidade de balançar os pilares da sua existência, ver e entender a origem das coisas, conhecendo o mundo em seu formato real. 

Pensando sobre o MV, a feição de cada membro descansando sobre as carteiras reforça o modelo comportamental regido pela presença do professor, gerando uma tensão naquele ambiente.  Com essa percepção, surge uma questão: é bem possível que esta oportunidade não ocorra a todos, mas se em algum momento nos deparamos com a oportunidade de descobrir a verdade, qual seria nossa escolha? 

Figura 2 – Pílula da verdade
Fonte: BTS, N.O, 2013

Daríamos um passo atrás ao aceitar a pílula azul, preferindo manter tudo como sempre conhecemos? A mudança é algo a ser temido a ponto de nos deixar estagnar nas tradições criadas por homens e passadas de geração a geração? Ou não, tomaríamos a pílula vermelha e veríamos onde tudo começou, de onde realmente viemos, onde nasceram as tradições de nossos pais e nos fizeram ser quem nós somos, nos deparando com um mundo não tão romancista como idealizamos? 

Figura 3 – BTS e a pílula da verdade
Fonte: BTS, N.O, 2013

“O sonho acabou, não há tempo para respirar / Escola, casa e PC, é tudo o que temos/ Vivemos a mesma vida e temos que nos tornar o número um / Para nós é como uma vida dupla entre o sonho e a realidade.”  (BTS, N.O, 2013)

Acerca de algumas discrepâncias históricas, que não nos parecem estar de acordo com os princípios que tanto falamos e ouvimos em nosso meio social, devemos manter nossas dúvidas guardadas dentro de uma prateleira e esperar elas serem reveladas? Ou ainda devemos manter um senso crítico e questionador, que para uma sociedade moralista, o seu posicionamento seja subjugado como “rebelde e imprudente”? Logo,  percebe-se que isso provém de pessoas jovens retidas numa sociedade desigual, os quais não apresentam aos seus pares a experiência de vida que acreditam ser necessária, e por esse motivo, os demais não aceitam as críticas sob um sistema no qual todos já se adaptaram a coexistir. 

É certo que a arte imita a vida do mesmo modo que a vida imita a arte, assim como o teor criterioso sobre as obras apresentadas deriva-se da interpretação. O que de certa forma é intimista, visto que a realidade escolar apresentada no MV não concede uma narrativa fílmica de contestar o sistema escolar, sobretudo o sistema escolar sul-coreano, ou seguir um padrão de clipes produzidos para uma boy band. Acima de tudo, é apresentado o fragmento transitório de um ciclo adolescente para o descobrimento da vida de jovens adultos, os quais estão formando convicções e moldando seu caráter.

Referências

  • BTS. N.O. In: O!RUL8,2?. Composição: Bang Si Hyuk, Pdogg, RM, Supreme Boi e SUGA. Intérpretes: Jimin, Jung Kook, RM, SUGA, V, j-hope. Seul: Big Hit Entertainment, 2013. Faixa (3min29s).
  • Hugh B.Brown, An Abundant Life: The Memoirs of Hugh B.Brown, Salt Lake City, 1988, pp.137-39.
  • The Matrix (Matrix). Direção: Lilly Wachowski e Lana Wachowski. Produção: Joel Silver. EUA: Warner Bros, 1999 (136 min).
  • Pink Floyd. Another brick in the wall, Pt. II. In: The Wall. Composição: Roger Waters. Intérpretes: Roger Waters e David Gilmour. UK: Harvest Records, 1979. Faixa (3min48s).

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