Aline Terra
Revisado por: Isabella Teles e Laura Mello
“Fui ensinado que arte é assim […] você pode mostrar e tornar algumas de suas coisas vulneráveis em coisas maiores.”
— RM, The Atlantic (2022)
Não é novidade que o líder do BTS, RM, é um grande entusiasta da arte. Desde a criação de sua conta no Instagram, ele frequentemente compartilha pequenos trechos de sua vida e seu amor pela arte. Esse amor não é limitado apenas às redes sociais e mais uma vez se mostrou presente em suas produções. Um grande exemplo disso é o álbum “Indigo” lançado no final de 2022.
O álbum, que possui 10 faixas de diversos gêneros, tem como proposta expor pensamentos e inseguranças, como um diário que narra as experiências vividas em seus vinte e poucos anos. Por esse motivo, as referências de grandes nomes do campo artístico em sua produção não são uma surpresa, já que arte é algo intrínseco à Kim Namjoon.
RM e design de mobiliário
Além de compartilhar imagens de esculturas, telas e cerâmicas, durante o ano de 2022, RM também nos mostrou seu entusiasmo por mobiliários assinados por grandes nomes da arquitetura e design, como o arquiteto suíço Pierre Jeanneret.
Foi possível ver mais sobre este interesse pessoal do artista no vlog “RM ‘All Day (with 김남준)’ Part 1”, postado no canal oficial do BTS, durante um pequeno tour que fez por sua casa. No vídeo pudemos ver como seu entusiasmo pela arte e mobiliários é algo que vai além de suas redes sociais, está presente no seu dia-a-dia, em todos os ambientes mostrados. Os mobiliários no vídeo, desde sua cadeira de leitura à sua mesa de jantar, possuem influência do movimento moderno e são assinados por nomes como: George Nakashima e Pierre Jeanneret.
O interesse, até então visto apenas em fotos ou vídeos compartilhados com os fãs, foi confirmado quando o artista postou seu caderno de rascunhos cheio de referências por trás da produção do álbum “Indigo”.
Entre tantas outras informações presentes no caderno de rascunhos feito ainda em 2020, com o título “apaixonado por…”, ele lista três grandes nomes da arquitetura e design do período modernista: George Nakashima, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand, os mesmos nomes que vimos nas peças assinadas postadas nas redes sociais de RM.
A influência destes nomes, principalmente Pierre Jeanneret, pode ser visualizada no photoshoot de “Indigo”. As paredes claras, piso e mobiliários de madeira natural que fazem parte de seu dia-a-dia, são a composição de cenário ideal para criar o conceito intimista que o álbum transmite através de suas faixas.
Este cenário apresentado por RM traz as principais características de um ambiente inspirado no movimento modernista, que se iniciou no século XX e deixou grandes nomes que inspiram o cenário da arquitetura e design em todo o mundo até os dias atuais, como Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas etc. Quando aplicado no design de interiores, temos como resultado ambientes com cores neutras, paredes e demais superfícies lisas (sem adornos), dando ênfase no simples assim como os ambientes criados para o photoshoot de “Indigo”.
Indigo e Pierre Jeanneret
Pierre Jeanneret foi um arquiteto, urbanista e designer de móveis suíço, nascido em 1896. Durante 20 anos ele trabalhou juntamente com Le Corbusier, arquiteto responsável pela publicação do manifesto “Cinco pontos para uma nova Arquitetura” em 1926, que hoje é conhecido como os 5 fundamentos da Arquitetura Moderna.
“Pierre Jeanneret seguiu uma filosofia arquitetônica progressiva que integrou o design à vida cotidiana. Suas ideias eram práticas, mas impulsionadas por uma estética refinada, e ele expandiu os limites do design no século 20, levando-o para além das classes privilegiadas e melhorando os padrões de vida das pessoas por meio da inovação.”
— Kukje Gallery (2016).
Foi na “Paris Salon d’Automne de 1929”, exposição de arte realizada desde 1903, que seus projetos de móveis foram expostos pela primeira vez. O trabalho tratava-se de uma colaboração com Le Corbusier e com a arquiteta Charlotte Perriand, também mencionada por RM em seu caderno de referência, e responsável pelo projeto do banco que está sob as peças de jeans nas fotos do álbum.
Na imagem acima vemos peças assinadas pelo arquiteto. A composição da cena é feita com um exemplar da mesa “Office Desk” que RM já havia compartilhado em seu perfil do Instagram, juntamente com cadeiras “Library Chair” também assinadas por Pierre Jeanneret. O cenário pode ser visto com mais detalhes no vídeo “RM ‘Indigo’ Jacket Shoot Sketch”, postado no canal oficial do grupo, no qual podemos ver os bastidores do photoshoot do álbum.
Pierre Jeanneret e seus projetos
Pierre Jeanneret projetou seus móveis mais famosos enquanto trabalhava no planejamento da cidade de Chandigarh, na Índia. Seus móveis foram produzidos para compor os ambientes internos dos edifícios projetados para a cidade, e por apoiar a indústria e artesãos locais, por isto vemos materiais e técnicas indianas na fabricação de suas peças, o que enriqueceu o cenário artístico local. Seu catálogo de projetos de mobiliários é fortemente marcado por formas geométricas e básicas como “X”, “U” e até mesmo “V”, usadas para a estruturação das peças.
“Combinando formas minimalistas fortes e materiais simples como madeira, cana e aço, os designs de Jeanneret integravam ideais modernos com o espírito rural do trabalho do artesão indiano, uma mistura que pode ser vista de forma mais marcante no uso de madeira teca e de jacarandá”
— Kukje Gallery (2016)
Seus projetos já estiveram presentes em diferentes galerias e exposições. Em 2016, as peças produzidas no período em que o artista viveu na Índia, foram expostas na Kukje Gallery de Seul, com o título “Le Corbusier, Pierre Jeanneret: Chandigarh, Índia, 1951-66”.
Mobiliários usados em Indigo
Algumas destas peças assinadas por Pierre Jeanneret que foram expostas na Kukje Gallery, estão presentes na composição do cenário criado para a sessão de fotos de “Indigo”, por exemplo:
PJ/EC-SI-51-A, 1952-1960.
Projetado para a biblioteca da universidade e tribunal superior da cidade de Chandigarh, produzido em madeira teca maciça.
PJ-SI-68-A, 1955- 1956.
Projetado em forma de “V” para facilitar com que estudantes sentassem e guardassem seus fios de costura, produzido em madeira teca.
PJ-R-26-A, 1960.
Estante para periódicos com 20 nichos, feita em madeira teca.
PJ-R-277-A, 1957.
Projetado para biblioteca com 6 nichos de diferentes tamanhos, produzido em madeira teca maciça.
PJ-SI-28-D, 1950-1959.
Cadeira para escritório ou mesa de jantar, em madeira teca maciça.
PJ-SI-58-A, 1960.
Bancos de madeira teca maciça projetados para faculdade de arquitetura.
PJ-BU-02-A, 1957-1958.
Mesa de escritório com nichos na parte frontal, em madeira teca maciça.
Toda a composição da cena exala a essência de RM e sua proposta para “Indigo”. Assim como quando ouvimos as faixas do álbum, ao ver as imagens do espaço, nos sentimos como parte dele enquanto exploramos sua profundeza.
Este sentimento de pertencimento ao espaço é visto na faixa “Lonely”, onde RM expõe sua solidão, e como lugares que ele não conhece ou são diferentes do seu dia-a-dia potencializa isso. Mas para quem aprecia os conteúdos de ‘Indigo’, percebe que além de apenas um álbum, a obra se tornou um espaço onde encontramos apoio, conforto e abertura para a vulnerabilidade.
“E agora eu odeio os prédios que eu não conheço
— Lonely, RM (2022)
Eu só quero voltar pra casa”.
6 respostas para “Pierre Jeanneret em Indigo, de RM”
Que texto fascinante! Que tudo que o Namjoon faz não é por acaso a gente já sabia, mas que chegava a esse nível de detalhe, eu fiquei encantada! Ótimo gosto da parte dele escolher pessoas tão inspiradoras assim e obras tão impressionantes! Ele não erra nem nos detalhes! Parabéns pelo texto, impecável e brilhante como sempre ❤️
Muito obrigada! ♥
Ele pensa em cada mínimo detalhe e nos inspira cada dia mais.
A grandiosidade das escolhas minimalistas do Namjoon é fascinante. Ele sempre foi impecável ao selecionar, a dedo, todas as obras e construções que quer que o mundo volte seus olhos. Da arquitetura aos livros. Matéria incrível! Obrigada BAA! Tragam mais análises sobre Indigo!
Muito obrigada! ♥
O cuidado e a maneira que ele se expressa nos detalhes é realmente fascinante, e nos incentiva muito também.
Texto riquíssimo e muito bem escrito! É muito bom entender um pouco mais das correlações entre os membros do grupo e suas paixões.
Muito obrigada! ♥