Escrito por Eduarda Christine Souza Pucci
Revisado por Julyanna Dias e Elinaete Sabóia
Com a chegada da nova música do integrante do BTS, Kim Nam-joon, chegam também uma avalanche de reflexões sobre como viver e aproveitar a vida ou se questionar e não se questionar demais, há muitos pontos que podem ser retirados de apenas uma letra de música e nos identificarmos com o nosso destino. Diante disso, não apenas esse novo single, como também algumas músicas do BTS ou em composições solo dos próprios integrantes, sempre trás uma certa mensagem que os integrantes querem transmitir para os seus ouvintes e fãs. Neste texto, analisaremos esses efeitos que a música e a escrita podem gerar no ser humano, assim como a arte no geral, voltemos para a história sobre Napolitano:
Tradicionalmente, falar em história da música significava articular uma narrativa que desse conta, na sucessão do tempo, de autores-obras-movimentos musicais […] a abordagem da história da música (e da história da arte, como um todo) ganhou novas possibilidades, entre elas, a exploração das tensões advindas da análise crítica da obra, das falas sobre a obra e das redes de influências e filiações estéticas e intelectuais. Estas, aliás, estavam mais próximas das estratégias de legitimação dos atores e sujeitos históricos, do que de uma efetiva historicidade da obra e do artista num determinado tempo e espaço […] (2007, p.158;162)
A partir desta citação, é notado que quando se aborda a arte, deve-se levar em consideração o autor, a sua obra e o movimento gerado e que vai gerar ao transmiti-la ao público em geral. O BTS desenvolve esses pontos minuciosamente, ao produzir canções que contam uma história ou produz um sentimento na pessoa que ouve/lê. Ademais, a questão de relacionar o tempo e o espaço, faz com que a aproximação do ARMY com as obras, possam ser intensificadas, como por exemplo, as abordagens sobre questões sociais, psicológicas e até mesmo da possibilidade de um ombro amigo, mesmo que seja de forma imaterial.
ANÁLISES DE CANÇÕES E ALGUMAS INTERPRETAÇÕES
Iniciando o debate analítico, “Come back to me”1, a letra da música, pode ser traduzida como uma exortação para si mesmo, em associação com o MV (MusicVideo) com ótica da história sendo voltada para o personagem principal e participações adjacentes para cada perspectiva de vida que uma pessoa pode querer ter ou tem. Ao longo do Music Video é visto várias cenas e várias histórias acontecendo ao mesmo tempo com o personagem principal (Namjoon), isto pode ser associado aos momentos que ficamos indecisos e montamos vários cenários diferentes do que pode ser o possível futuro, e assim, a ansiedade toma conta e controla cada movimento posterior. Outro elemento presente é a porta com o semáforo, podendo ser interpretado como angústia e a pressa que temos para fazer tudo o que queremos o mais rápido possível, porém, assim como no MV, quando paramos de nos preocupar demais, conseguimos avançar o sinal verde. Após passar pela porta, finalmente percebe-se que tudo não passa de cenários que montamos em nossa mente e que apenas o tempo pode resolver qualquer problema/aflição, além do auto perdão, e perceber assim como fala RM em sua canção “ […] a primavera sempre esteve aqui […]”.
O início desse MV já apresenta uma mensagem e que é importante frisá-la aqui também, pois pode conter conteúdo que pode gerar gatilhos, a música e o Music Video apresentam uma linguagem sensível. O MV e a letra2 apresentam uma jornada do trauma, e com a letra da música bem explícita, Agust D em sua composição e performance inicia uma busca pela luta contra a Amígdala3, um núcleo de neurônios que se encontram na profundidade do lobo temporal no cérebro. Esse MV apresenta também alguns elementos relacionados ao nome da música, peça importante para entender o contexto da obra em si, a porta, os flashes de memória de um acidente, o estilete e a cicatriz, ambos conversando entre si e com a música de fundo, enquanto mostram a narrativa do trauma e como a memória e o corpo lidam com respectivos temas.
Sendo uma produção realizada no meio do períod pandêmico que o mundo estava passando, o MV de “Life goes on” e a sua letra4 fez a esperança e o ânimo voltar para aqueles que perderam. Com o mundo e a COVID-19 instaurada, o BTS lança uma música com o título traduzido, e já com a primeira mensagem de que a vida continua. Ao longo da letra em associação ao MV, é relatado que o mundo parou de uma forma tão repentina que gerou grandes consequências para a vida em sociedade, não só isso, a primavera não foi vista por um bom tempo e nem sorrisos – mesmo que a máscara tapasse qualquer indício de emoção do rosto por completo. As ruas vazias, dias cinzas e monotonia tomou conta daqueles que podiam ficar em casa para que o vírus não se espalhasse mais. E as perguntas que as pessoas sempre se faziam… será que isso tudo vai passar? será que vai acabar um dia? e diante disso, às vezes esquecíamos de aproveitar o tempo presente, dando valor ao simples ato de acordar e estar com a família e ter a família – mesmo que de longe. Diante da situação, se recriaram novas formas de fazer coisas do dia a dia, e como mostrado no MV, os shows online – para quem tinha acesso – se tornou uma alternativa para a esperança não se perder em meio ao caos que estava acontecendo, e dessa forma, nós – o ARMY– fomos substituídos por luzes, até porque onde tem luz há esperança, não é mesmo?
O BTS E SEU IMPACTO PSICOSSOCIAL E CULTURAL NO MEIO ARMY E POR SEUS OUVINTES
Diante da citação acima, é possível observar esse poder de movimentação de questões sociais e políticas que o BTS trouxe, mostrando além do grupo, suas músicas também possuem certo teor de importância com as pessoas e os problemas da sociedade, sendo uma das maiores temáticas representadas, o cuidado e manutenção da saúde mental. Ademais, com um quantitativo de fãs se concentrando no público jovem – mesmo que ultrapasse muita das vezes essa faixa etária – segundo Abade e Pereira “devido ao fato de que a adolescência é um período caracterizado por emoções intensas, implica na necessidade de um foco maior em estratégias de enfrentamento […]” (2021, p.78). E com isso, o apoio emocional que a música pode gerar, se torna uma via fácil e de acesso rápido no meio de ajuda socioemocional, não descartando o recurso de apoio de profissionais e lugares de informação.
Algumas produções, realizadas e idealizadas por Kim Nam-joon, apresentam uma base mais auto reflexiva em seus álbuns solos, como na mais recente produção de “Right place, wrong person”, assim como essa essência se apresenta nos álbuns: “Indigo”, “Bicycle” e “Mono”. Não é diferente das produções em grupo, e também em outras composições solo de outros integrantes do BTS. Ajudar o ARMY e ser um portal de informação se tornou uma característica do grupo. Além disso, o teor do conteúdo de algumas canções e temáticas que os álbuns são inspirados podem incentivar movimentos como o apoio às campanhas de saúde mental, por exemplo. Dessa forma, “a música como práxis cognitiva contribui para o conjunto de ideias que os movimentos oferecem e assume um papel significante de portador da verdade e, por expressar uma gama de forças e processos sociais, representa diversas tradições (Silva, 2023, p.26 apud EYERMAN e JAMISON, 1998).
Referências
ABADE, Bhrescya Ayres; PEREIRA, Ana Letícia Guedes. Ídolos e Apoio Emocional: Reflexões Sobre a Dinâmica do Fã Adolescente Contemporâneo. Facit Business and Technology Journal, v. 1, n. 28, 2021. Disponível em: <https://revistas.faculdadefacit.edu.br/index.php/JNT/article/view/1070/728> .
SILVA, Rebeca Andrade Alves da. O K-pop e o ativismo no Brasil: análise do BTS e seu fandom B-ARMY. 2023. Disponível em: <https://bdm.unb.br/bitstream/10483/36697/1/2023_RebecaAndradeAlvesDaSilva_tcc.pdf>.
HYBE LABELS. Agust D ‘AMYGDALA’ Official MV. Youtube, 24 de abr. de 2023. 4min21s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IX1dkYoLHVs&rco=1> . Acesso em: 21 de mai. de 2024.
HYBE LABELS. RM ‘Come back to me’ Official MV. Youtube, 10 de mai. de 2024. 5min41s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NrfikKxF4Ps> . Acesso em: 21 de mai. de 2024.
HYBE LABELS. BTS (방탄소년단) ‘Life Goes On’ Official MV. Youtube, 20 de nov. de 2020. 3min50s. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=-5q5mZbe3V8> . Acesso em: 21 de mai. de 2024.
NAPOLITANO, Marcos. História e música popular: um mapa de leituras e questões. Revista de História, n. 157, p. 153-171, 2007. Disponível em: <https://www.redalyc.org/pdf/2850/285022050008.pdf>.
1 Composição: Agust D / EL CAPITXN.
2 Composição: San Yawn / JNKYRD (정크야드) / Kuo Hung Tseng (曾國宏) / Oh Hyuk (오혁) / RM
3 “A amígdala é uma estrutura localizada no lobo temporal dos mamíferos, formada por diferentes núcleos e tradicionalmente relacionada com o sistema emocional do cérebro. Alguns autores propuseram uma função alternativa da amígdala ao considerá-la parte de um sistema modulador da memória […] A relação da amígdala com as emoções centrou-se no estudo do condicionamento do medo, através do qual um estímulo emocionalmente neutro é capaz de produzir reacções emocionais pela sua associação temporal com um estímulo adverso. Constatou-se que a amígdala é necessária para a aprendizagem e a expressão deste condicionamento, e portanto está envolvida na aprendizagem emocional. Quanto à relação da amígdala com a modulação da memória, há que destacar os resultados que demonstram que esta nem sempre é necessária para a aprendizagem e a memória, mas sim para que se manifestem os efeitos moduladores sobre a memória de diferentes substâncias.” Disponível em: https://neurologia.com/articulo/2001125/por. Acesso em: 03 de jun. de 2024.
4 Composição: j-hope / SUGA / Antonina Armato / Chris James Brenner / Ruuth / RM / Pdogg.