Escrito por: Eduarda Jermann
Revisado por: Mariana Castro
Há uma semana houve o lançamento do primeiro álbum solo de Taehyung, também conhecido como V, sendo este o último membro do BTS a se lançar como artista solo. Produzido por Min Hee Jin e com influências de Jazz, “Layover” possui seis faixas no total, sendo cinco músicas e uma faixa bônus de puro romance e nostalgia.
Por definição do artista, o título do álbum significa “uma escala” ou “uma breve transferência”. Ele enfatizou em diversas entrevistas que a sua intenção é que o álbum seja como uma caminhada, desde o ponto de partida até o destino final, visto que “é muito raro irmos diretamente para o destino final de nossas vidas”. Por isso, para uma experiência completa, o ideal é ouví-lo de acordo com o seu fluxo, do início ao fim.
Ele disse, também, em entrevista a PICKCON, que tenta retirar elementos glamourosos de sua vida enquanto artista e mostrar as verdadeiras cores que tem como pessoa. E para a felicidade do ARMY, cada faixa do álbum acompanha um MV que o expressa, com a participação especial do nosso mascote favorito, Yeontan. Sabendo disso, vamos explorar o senso de ritmo único de V e as camadas de “Layover”, track by track!
TRACK STORY
Rainy Days
É a faixa típica para dias chuvosos, assim como o título. Arrisco dizer que seria facilmente uma faixa de lo-fi, que são músicas caracterizadas por sua leveza e simplicidade. A junção de seus vocais com o piano torna a faixa eletrizante e, ao mesmo tempo, sua instrumental é relaxante.
Um detalhe que torna tudo mais especial são os efeitos sonoros chamados “ruídos brancos”, que são barulhos emitidos por elementos do cotidiano, como notificações de celular, reforçando a “naturalidade” do álbum. Além disso, é algo que se conecta com a letra da música, que expõe sentimentos como o arrependimento, o receio e a ansiedade da espera da resposta de alguém, uma expressão direta da nossa realidade: relacionamentos controlados pelas redes sociais.
Blue
A primeira faixa se dissipa suavemente, dando espaço ao R&B old school de “Blue”, gênero que mistura diversos elementos do jazz, soul, funk e muito mais. Na verdade, as músicas são tão homogêneas uma com a outra que o passar do tempo é imperceptível, como se o álbum inteiro fosse uma música só.
Na segunda faixa, V traz uma atmosfera mais melancólica e simples, porém genuína. É um lamento que faz um jogo de palavras, pois na língua inglesa “Blue” pode significar “azul” ou “triste”: “Verde, amarelo, vermelho, azul / […] Mas, querida, você ainda está triste”. Tae comenta que a obra foi gravada detalhadamente e possui muitas influências do nosso maknae, por ter sido gravada na casa de Jungkook. É a música perfeita para ouvir no inverno, do entardecer aos fins de noite e, sem dúvidas, no seu dia a dia.
Love Me Again
Acredito que “Love Me Again” seja uma das faixas que fica mais evidente a influência do Jazz na vida de Taehyung. Ele se envolveu com o gênero durante a sua graduação, quando fazia aulas de saxofone e precisava ouvir muitas músicas do tipo para praticar, o que, naturalmente, se tornou parte de seu repertório.
Taehyung impressiona com a sua facilidade em transitar entre notas de alto e baixo alcance vocal, o que é nítido no álbum como um todo, sobretudo nessa faixa. Seguindo a atmosfera melancólica, a terceira canção é um R&B cativante e sedutor, em que a voz aveludada característica de V torna tudo melhor. É uma música cheia de negação, como uma súplica por um amor que não existe mais, ou melhor, um apelo para ser amado novamente.
Slow Dancing
A faixa foco do álbum, “Slow Dancing”, bebe direto da fonte do estilo soul dos anos 1970, extremamente romântica e descontraída. Além disso, Tae relata que a filmou em uma caverna e que foi a música que mais demorou para ser gravada, pois “queria cantá-la da melhor maneira possível”.
Gosto de imaginar que “Slow Dancing” é uma faixa flutuante, de tão relaxante que é. Certamente, a cereja do bolo é o final, em que há uma flauta improvisada que traz ainda mais leveza e graciosidade para a melodia.
For Us
A quinta faixa do disco é a mais notável em termos de produção. Min Hee Jin, diretora criativa do grupo de sucesso NewJeans e CEO da ADOR, fez um trabalho impecável na construção do álbum como um todo. É muito evidente como eles trabalharam bem em dupla e fizeram a obra que é “Layover”.
Em nota, a produtora diz: “Preparamos músicas que refletem as preferências de V e, ao mesmo tempo, músicas que eu gostaria de recomendar. Em vez de um estilo familiar, colocamos o foco na música que queremos fazer e na música que podemos fazer bem. Estávamos terrivelmente ocupados, mas acho que surgiu uma produção interessante”.
Para além da produção, um dos pontos fortes dessa faixa é a harmonização que existe entre os vocais de Taehyung. A letra dá muita ênfase na mudança de proximidade entre duas pessoas, logo em seu início: “Você foi de minha casa para / “Foi bom te conhecer”/ E isso parte meu coração”. Em entrevista, o artista diz que “é uma música R&B alternativa que expressa metaforicamente os sentimentos lamentáveis de não ser capaz de vencer, não importa o quanto você tente”. A melodia expressa isso muito bem, os sons são todos muito vintage e deixam uma impressão duradoura em todo o álbum.
Slow Dancing (piano ver.)
É interessante observar como as notas de um piano mudam o tom e os possíveis significados da música. Na faixa original, “Slow Dancing” é uma música relaxante, mas leve, positiva e inspiradora. No entanto, como é dito no site da BigHit, a faixa bônus possui um encanto diferente do original. A introdução dessa versão é delicada e traz um tom que chega a ser doloroso, de certa forma, mas que combina perfeitamente com um bom vinho.
Para o Kpop On! Spotify, Taehyung afirma: “Na vida, ir diretamente ao seu destino final é muito raro. Assim, através de “Layover”, espero que as pessoas possam fazer uma pausa, refletir e relembrar os seus objetivos. Desejo que todos, inclusive eu, não se negligenciem por estarem muito focados em seu trabalho. Ao trabalhar ou fazer alguma coisa, espero que eles possam pensar em sua saúde e felicidade, e em outros aspectos de seu bem-estar mental”.
Taehyung não desaponta quando se expressa e se mantém fiel a si mesmo, o que considero um traço único e admirável de sua parte enquanto pessoa e artista. É evidente o quanto esse projeto é pessoal, um verdadeiro produto de autoconhecimento e integridade, “como se estivesse apenas começando a pintar a imagem que é Kim Taehyung”. É, também, um mergulho em si e uma gentil lembrança de que não há problema em fazer pausas.